Eu tentava preencher meu tempo com tudo que podia.
Eu era a maior leitora, tomava mais de três banhos por dia, via de dois a três filmes por dia e ligava pra todo mundo que estava disposto a sair comigo pela noite.
A verdade, é que numa cidade pequena nas férias e carregando uma mágoa enorme dentro do peito que me impedia de tudo, não havia praticamente muito que fazer.
Tudo era pouco.
Logo eu que sempre vivi no excesso, agora sentia que nada era suficiente, nunca. Nem o meu apetite era mais como antes. Eu mal comia, e me satisfazia uma tarde inteira com dois pequenos pasteizinhos. Eu queria voltar ao excesso, mas ele me destruira e eu tinha vontade de vendar meus olhos e fingir que nada estava acontecendo as minhas costas, e ter de novo aquela felicidade falsa que me preenchia.
Eu morava numa pequena casa bem próxima do que podia se chamar de comércio da cidade. Meus pais eram ambos aposentados e viviam uma vida simples e bem comum. Minha casa tinha muitos gatos e o quintal quando demorava pra ser limpo às vezes cheirava mal.
Não sei se esse era um dos motivos dele nunca ir a minha casa e evitar meus pais, que sempre foram pessoas bem tranqüilas. Porém ele nunca conseguiu os enganar, como fez comigo.
Era cinco da madrugada e eu estava indo dormir o mais tarde possível pra não poder pensar muito, pra não ficar muito tempo sozinha absorvida naqueles pensamentos angustiantes...
Mesmo com muito sono, eu levantava e olhava pro telefone. Esperando algo que não acontecia nunca acontecer.
Pela manhã, eu acordei muito cedo. Justo o que não queria. Eu durmo tarde pro dia passar rápido, e então quando vi que era oito da manhã, eu me encolhi em posição fetal e apenas esperei a dor vir. E comecei a pensar em tudo que não devia.
Me sinto masoquista quando faço isso, sei que é pior... sei que quanto mais procuro pistas mais encontro provas e isso me destrói. Mas mesmo assim eu continuo rasgando cada centímetro da carne até descobrir cada podre. E todos esses podres doem muito mais em mim.
Meu masoquismo matinal, eu me encolhia até não poder mais, a raiva tomava conta de todo o meu corpo, raiva de ter sonhado que o tinha perdoado. Raiva de lembrar tudo o que ele fez e raiva de ainda pensar sem parar em vê-lo.
É nesse momento que as lágrimas vem e eu começo a contar os segundos para dormir de novo.
Isso aconteceu mais três vezes pela minha manhã.
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