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About a Girl

Minha foto
"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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Reflexo azul

Posted on 07:21

Minha "injeção de ânimo", como costumo me referir ao falar com eles, tem sido substituída. Embora a pílula roxa tenha sido estendida não é dela, materialmente falando, que vem a teia que me estende da cama com sutileza.
Todos os longos olhares e batalhas travadas só podem suspirar em jubilo pela imensidão azul que já não vejo mais. Encontrei de novo uma e estou lutando todos os dias para ser dela minha salvação.
Que as faces distorcidas permaneçam, mas silenciadas pelo barulho do diafragma e concretas apenas no plano de fundo da imagem.


Look what you've done

Posted on 14:18



















Sinto-me tênue, vaga, diluída, desumana, sem fibra e a perder tempo com bagatelas que afetam não só a mim, mas a todos que amo.
Por que machuco as pessoas que amo? Por que as iludo dizendo o que querem ouvir? Por que as traio?
Qual o intuito dessa necessidade de permanecer sempre em fuga?
Na verdade, eu me sinto tão trágica e calculista que ando escondendo meus impulsos até mesmo dos especialistas que se pactuaram em me ajudar...  E, meu Deus, como me sinto a mais ruim das pessoas e com um incontrolável e assustador sentimento de permanecer sempre assim... Na Busca por algo, incessantemente buscando algo.
O quê? Não sei dizer ainda... Seria esse o meu kitsh? O meu monstro? Temo ser ele a minha destruição e a dele. Ninguém é capaz de suportar tanto, não importa o quanto ame.
Tenho consciência de ser o elo fraco e invasivo que sempre o testa, estremecendo-o até o último pingo dos nervos.
A minha busca é desumana e egoísta e ele é o néctar da bondade da natureza dos homens. Como eu gostaria de ser como ele. Como eu gostaria de ser como ele por ele.
Não duvido que amo;
Não duvide que amo;
Ele não duvida, eu sei.
Então a quem devo culpar? Ao kitsh? As pragas em meus livros? A arte que se foi? Ao transtorno?
Suporto tudo da minha auto destruição, menos rotular minhas ações pela medicina.
O silêncio.
Os ouvidos que não desejam mais ouvir nenhum tipo de conselho.
O sinal da própria perdição.
Mas é inacreditável como é capaz de deitar a cabeça no travesseiro a noite, fechar os olhos e simplesmente adormecer.
Ter a consciência da minha desgraça é o que me dá esperanças de mudar. Me agarrar que aprenderei a suportar a mudança sem a fuga, pela primeira vez na vida.
Por ele, por mim, por nós.

Posted on 06:55


















"E puseram-se a conversar como velhos companheiros, o que não deixava de ser estranho, pois conhecera-o uma hora atrás, comentou ela como talvez todas as mulheres costumassem fazer. Acaso não eram cúmplices, ambos buscando algo por trás dos rostos secretos? Depois de confessar isso, ela fez uma pausa e, como as mulheres sempre faziam, ponderou se seria correto falarem tão abertamente um com o outro. E acrescentou:
- Talvez porque nunca nos vimos antes e nunca nos veremos mais.
[...]
Não poderiam ter dito naquele momento, em que ponta se achavam, pois essa aleia era tão lisa como um anel de ouro. Mas os gregos, ou seja, Platão e Sófocles e os demais, eram íntimos deles, tão íntimos quanto qualquer amigo ou um amante, e respiravam aquele mesmo ar que beijava as faces e vinha, só que eles, como jovens que eram, ainda impeliam à frente e questionavam o futuro."

Virginia Woolf

Uma faixa de passeio sobre um abismo

Posted on 20:52





























Porque será a vida tão trágica?, tão semelhante a uma pequena faixa de passeio sobre um abismo. Olho para baixo; sinto vertigens; não sei se vou conseguir caminhar até ao fim. Mas porque sentirei eu isto? Agora que o digo já não o sinto. Tenho a lareira acesa, vamos à Beggar’s Opera. Só que isto paira em mim; não posso fechar os olhos a isto. É uma sensação de impotência: a sensação de não estar a realizar nada. Aqui estou eu, em Richmond, e, como uma lanterna no meio de um campo, a minha luz esfuma-se na escuridão. A melancolia diminui à medida que vou escrevendo. Então porque não escrevo eu mais vezes sobre isto? Bom, a vaidade proíbe-mo. Quero ser um êxito até aos meus próprios olhos. Contudo, este não é o fulcro da questão. É que não tenho filhos, vivo afastada dos amigos, não consigo escrever bem, gasto muito dinheiro em comida, envelheço – dou demasiada importância aos quês e porquês; dou demasiada importância a mim mesma. Não gosto que o tempo esmoreça. Se assim é, então trabalha. Pois é, mas o trabalho cansa-me logo – só posso ler um bocadinho, uma hora a escrever e já não posso mais. Ninguém vem para aqui entreter-se um bocado. Se isso acontece, zango-me. Ir a Londres é um esforço enorme. Os filhos da Nessa crescem e não posso tê-los cá para o lanche, nem levá-los ao Jardim Zoológico. O dinheiro para os meus alfinetes não dá para muito. Contudo, tenho a certeza de que estas coisas são triviais: é a própria vida, penso eu por vezes, que é assim tão trágica para esta nossa geração – não há um cabeçalho de jornal que não tenha um grito de agonia de alguém. Esta tarde foi o MeSwiney, e a violência na Irlanda; ou então é uma greve. Há infelicidade em todo o lado; está mesmo atrás da porta; ou há estupidez, o que é pior. Mesmo assim, não consigo arrancar este espinho. Sinto que voltar a escrever o Jacob’s Room me vai fazer recuperar a fibra. Acabei o Evelyn: mas não gosto do que escrevo agora. E apesar de tudo isto como sou feliz – se não fosse esta sensação de haver uma faixa de passeio sobre um abismo.


Virginia Woolf

Rasga-os da mente se souberes de cór

Posted on 20:34
"Que tempos difíceis eram aqueles: ter a vontade e a necessidade de viver, mas não a habilidade."
É assim que me sinto hoje. Hoje eu não podia adiar a escrita, o trabalho, o estudo, os códigos e as responsabilidades censuram a melancolia.
Isso parece bom, parece simples acumular trezentas e sete tarefas para esquecer. Apagam-se as leis, fecham-se as bocas e dos murmúrios não escuto mais, o coração também se afasta... e como é bom não ter coração.No esconderijo do sol começa a crescer o inimigo. É hora de descansar da exaustão da mente, do corpo, dos olhos. A mente, no entanto, cospe injúrias, esquece de esquecer. 
Nos relapsos de lembranças, no silêncio das calçadas, me vem tudo que me dói, tudo que corrói. A dificuldade de se relacionar com as pessoas e a facilidade para seduções baratas, a incapacidade de planejamento e organização, a impotência e o sentimento de intelecto inferior, as reviravoltas do amor/humor e a angustia... angustia mansa que chega devagar sem se notar, angustia braba que se dá com um baque e envergonha. 
No entanto, tudo que tenho feito é deixar a angustia de lado, tentar desconsiderá-la como um livro esquecido na estante. Ignorá-la e torná-la até mesmo risível depois de algum tempo... Mas minha grande inimiga se recusa a ser tratada simplesmente como uma pessoa que é preciso deixar por aí, nas estantes da vida. O seu grande problema é estar entranhada, funda e segura de sua permanência. Tentar combatê-la com meio internos, químicos, neurológicos é uma maneira de tentar vetar algumas das consequências de seus sintomas. Sei que domar os sintomas físicos de maneira externa só vai adiar ainda mais o que está claro toda noite em meus sonhos. São tantos símbolos travando guerras ilegíveis dentro de mim, procuro lê-las mas são tão difusas, paralelas... Ignoro-as, não escrevendo. Censuro-as através do corpo, das fobias, do pânico. 
E no mais, meu problema é sempre o medo. Tenho um medo aterrorizante e constante, das pessoas, da exposição, da rua, da cobrança do trabalho e do sentimento de impotência nos estudos. Tenho medo, acima de tudo, de não ter o apoio dele ao meu lado, ou pior, dos dias em que suas ações me repelem, censuram a angustia e fazem eu me trancafiar cada vez mais nesse meu mundinho do país das maravilhas, que das maravilhas só tem o nome e literatura.  



"Rasga,
Rasga-os da mente se souberes de cór."

Florbela Espanca