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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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A Tereza que abandonei

Posted on 10:24 In:




























Sempre que me via nos braços de Miguel, me sentia como uma Tereza*, aquela criança ingênua e até mesmo frágil, entorpecida de amor. Tamanha doçura fazia fechar os olhos pro mundo, pras pessoas e pros rascunhos. Era cuidado que transbordava, era sua boneca de porcelana, tão pequena e perfumada. Sim, como era bem cuidada...
Sentia o abraço quente, a comida na mesa, os pés tão pequenos e delicados em cima dos de Miguel, caminhávamos assim para o quarto, com meus pés pequeninos em cima dos dele, tão grandes. Sorriamos, caíamos, eramos uma pessoa só.
Estava segura, tão segura... se perguntassem do quê, não saberia responder. Se perguntassem porque tudo aquilo não foi o suficiente, saberia menos ainda.
Então, certo dia, fugiu. Fugiu dos sonhos, dos braços fortes, da segurança e, no mais, levou todo o amor. Só não se deu conta de que o que amava era a fuga e não seu destino.
Não se deu conta que a leveza de Miguel não viveria sem o amor que fora levado, nada é tão forte assim... mas não se tratava de força, ele não merecia tudo aquilo... aquele amor tão puro nunca mereceu.
Abandonei Tereza ainda febril, não devolvi nem as malas. Ficou parada na beira da estrada com um exemplar surrado de Anna Karênina debaixo dos braços.
Braços que hoje só pertencem a lembranças do que um dia chamei de número seis.


*Referência a personagem de Milan Kundera do livro A Insustentável Leveza do Ser.

Sabina

Posted on 03:21 In:

Hoje me senti tão forte, erguida sobre toda aquela areia movediça. Ao mesmo tempo senti que não sei se desejo toda essa força, que tudo que fiz foi sujo e até mesmo proposital... esperando, sempre esperando por algo inominável que nunca pude ao certo dizer que amava.
A sujeira das minhas palavras ficou engasgada sobre o meu corpo, pelo seu cheiro nas minhas roupas. Me tornei Sabina*, livre, sem raízes no chão e no coração. Me tornei leve, nos lençóis, nas palavras e nos sabores... Propensamente usável de corpo e alma.
Porém, nunca nos sonhos, nos sonhos não poderia. A densa névoa negra que me persegue todas as noites me questiona: "Quem é você?" assim como a Lagarta um dia questionou Alice.
Me tornei a outra, a que subtrai sonhos, que espera, que usa máscaras e foge de quem a protegeu com amor infinito.
Hoje eu confesso que choro, mas não choro por mim e nem pela minha decisão de não engolir mais suas palavras secas. Eu choro por Miguel, choro por todos aqueles vinhos batizados de mercúrio que não foram suficientes pra me prender. O que já foi?
Sempre te vi leve, mas as manchas, como imaginei, foram inevitáveis. Pesaram toda uma história simplesmente pelo fato de você tentar tanto escondê-las... se tornaram ainda mais distorcidas, deformadas.
Penso que não posso fazer parte disso mais, não quero. É tanto peso e eu só enxergo a falta. Você falta, pesa e se tranca no seu País das Maravilhas, que consegue ter um buraco mais fundo que o meu... e como eu não posso... como cansei de tentar decifrar-te.
Sim, esse é meu adeus a Sabina que você chamou em mim, no mais, te agradeço por ela. Ela me fez crescer como nunca imaginei mas, por agora, o adeus também se amplia a você.
Adeus e por favor, não retorne... não até o fim desse agosto, que se tornou tudo, menos meu.


*Referência a personagem do livro de Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser.

Em Quadros

Posted on 00:04 In:



















Certo dia, buscou-me a Lua na janela, tão frágil banhada de novas cores. Mostrou-me que algumas de suas faces podiam ser tão alaranjadas quanto o sol. Tento entender o exato momento em que o escarlate tão fresco se misturou com tantas outras cores e se perdeu de vista... Tento entender tanta coisa enquanto espero, enquanto procuro pelo que espero.
Venho hoje, dentre tantos sonetos e preâmbulos, despedir-me da ideia de despedir de você. É que esse mesmo texto começou como um texto de despedida que nunca seria entregue. Não consigo, na verdade nunca desejei realmente, acreditava apenas que era preciso.
Nesse tempo, te senti como algo jovem, tão efêmero... como uma idealização sã. Um querer ser adormecido e acordado tão repentinamente por tantas notas e claves. Um poder ser que me virou do avesso ao sussurrar nos meus ouvidos: deve ser, é preciso ser, es muss sein - e como eu queria que fosse.
Confesso que você é pra mim algo tão leve e vivo de uma forma invejável, mas não é exatamente isso o que procuramos tentando despertar o amor? O que desejamos intimamente e não podemos ser?
Eu só procurava entender, não penso em nada além do que desejo ter e ainda me encaro desajeitada pensando se realmente tenho. Você não procurava, mas encontrava longos cabelos vermelhos, escondidos nas roupas e lençóis... brincando descuidados com aquela saudade mansa que faz sorrir.
Ainda não sei o que espero, penso que um sinal, um convite ou apenas mais um copo de vinho uma noite... Enquanto isso me afasto dos fantasmas, é uma batalha diária, confesso. Seria bom ter mais verbos para flexionar, menos esperas e inseguranças...
Sim, eu me sinto tão insegura, sua leveza me traz calma mas nosso silêncio sela um pacto com a insegurança aguçada por outros. Talvez a culpa seja apenas da distância atual, que repele e ao mesmo tempo fascina, mas a mim também confunde. Mistura cores e aromas.
Todos os dias em que ele bate a minha porta, só vejo mar. A insegurança me assombra, procuro por você, encontro seus lindos olhos na minha mente, me fitando de forma serena. Não sei o que dizer a eles, não sei o que esperar encontrar neles... Amor? Paixão? Não sei ainda que expressão eles tomariam com palavras tão fortes assim, mas sei que sinto algo ainda inominável, que pulsa sem compreender... um querer desenfreado tão limpo e sonoro pelas palavras desenhadas, desejadas no seu corpo.
Kundera me ensinou sobre a Leveza e o Peso, você me mostrou-os da forma mais crua que já pude ver. Comprou pincéis, cavalete e pediu-me para pintá-las em aquarelas nuas. Não deixei, mas como eu queria ter aquelas suaves noites pra procurar nos teus quadros agora.
Me sinto nesse momento tão leve, não lamento nada mais, nem me culpo - como sempre o fiz na sua frente. Apesar de tantas brisas breves, eu continuo me perdendo a procura de um porto seguro naqueles olhos, nas palavras que busco deles. Por que ainda se prolongam? Não vêem que espero?
Tento não importar, permaneço por aqui, quietinha, encolhida com os meus sonetos, ando carregando só os nomes que você me deu.
Soube que a lua não visita sua janela há um tempo, que seus lençóis foram limpos e estão pesados. Eu senti suas correntes antigas com um arrepio gelado.
Ninguém esperava, mas permaneci imune, é uma empatia tão forte e singela a que sinto. Eu te compreendia, ainda compreendo... compreendo até seus fantasmas.
Quanto aos meus, me arrastam por aqui, desidratam até os ossos... confesso ter buscado seu nome muitas vezes para desautorizá-los, desmembrá-los... Mas me sinto tão perdida, os poetas já não trazem tantas respostas.
Confesso ainda ter caminhado por campos literários em que nunca fui chamada, talvez pelo desejo de não sentir mais esse medo seco, nem essa coragem falha. Nessas noites trêmulas, senti uma tremenda falta de chão quando, finalmente, dei de frente com histórias que não me pertenciam. O resto veio como consequência, com uma brisa perdida sem nome.
Não associei mais, não quis pensar no que aqueles olhos me diriam. Não faz, nem nunca irá fazer, parte da leveza das cores que me fazem querer você, de tantas formas e tão bem.
























Acordei às sete da manhã e não podia, nem se quisesse, dormir de novo. Andava pensando como seria se *Anna Karênina, depois da tumultuada trama com Conde Vroski, escolhesse não pular em frente aquele trem... o que aconteceria se, depois de tudo, Anna tivesse a opção de retornar para o Karênin? Com certeza, não teria sido um final tão belo e trágico, mas porque não se contentar com esses frágeis restos de uma vida passada tornando-os algum dia suspiros de sonhos almejados? Com o tempo o passado ministrado com o presente poderia, quem sabe, se tornar uma grande mentira contada tantas vezes a ponto de se tornar a verdade manipulada.

***

Alice tinha regressado do jantar, sentia-se fraca e não conseguia absorver tudo que lhe foi dito. Era fato que já sabia, secretamente, já sabia de cada palavra que havia saído aquela noite dos lábios de Caroline. Fez-se de ingênua para mostrar para Deus sabe quem que não se importava. Quando retornou sentiu uma fome não saciada, havia passado o dia todo com o almoço, mesmo assim não foi capaz de dizer, havia perdido a fome e nem percebia. Havia entregado todo o trabalho do corpo pra mente, queria ajudar Caroline, com todas as forças. Para isso escondeu todas as mortes, a da mãe, a do amor de Miguel e a de Amélia Passos. Caroline não precisava saber, não deveria saber, era preciso ser assim - es muss sein.
Agora, a vertigem contida estava estampada para todos. Caminhou pra casa, e como num lastro de um destino torto encontrou Miguel com meia garrafa de vinho na porta de sua casa. Não houve rodeios, ele disse exatamente tudo que deveria dizer, fez exatamente tudo que deveria fazer. Sempre soube ser o melhor amante com maestria.
Miguel era o verdadeiro pretérito mais que perfeito, tão distante e sempre de prontidão a dar mais do que o esperado. Não havia o que mudar no seu amor por Alice. Ele era melhor do que qualquer outro e ela sabia.
Não haveria nenhum outro como ele era, nenhum seria capaz de fazer o que ele fazia. Podia trazer a lua e as estrelas sem ela almejar ou pedir. Mas porque tamanho amor não a aquecia? Porque não a tocava?
Miguel não era capaz de ser, como pessoa, admirável... era ingênuo, na maioria das vezes, se passava por bobo perto dos outros. Defendia o que não sabia, falava demais sem medir as palavras, era todo coração.
Coração que se encontrava parado ali, de prontidão diante dela. Como seria reconfortante retribuir os sonhos de Miguel...
Não foi preciso tantas palavras, quando se deu conta, já estavam no quarto. Ele dizia tudo que qualquer mulher desejaria ouvir. Mas as doces palavras e juras de amor não eram retribuídas, mesmo assim, isso não o impedia de continuar... o amor é engraçado. Alice não podia ouvir, a porta da sua memória poética** estava fechada, por mais que Miguel batesse, era toda corpo.
Ele percebeu que ela não expressava as reações esperadas, sabia que ela nunca fora assim. Não disse nada, pelo contrário, acentuou as palavras, gestos, suspirou com mais amor. Buscou, inutilmente, trazer mais que as estrelas.
Alice não o impedia mas também não fazia nada, quando percebeu que aquilo tudo não era de desejo seu, se fechou num casulo compacto... e enquanto Miguel se esforçava para ascender a memória poética, ela se lembrava de Caroline... enquanto as mãos afagavam seus cabelos, ela recordava as de Caroline mais cedo segurando as suas firmemente e a empatia sentida pelos seus problemas... Logo, Alice sabia que ela iria partir e era preciso escutar, entender e deixar que fosse assim - es muss sein.
No meio de tantos pensamentos sentiu o membro rígido de Miguel se aproximar, aquila visão a chocou. Arruinava a peça e descaracterizava os personagens. Não pôde suportar mais, apertou os olhos em prantos, as lágrimas começaram a rolar... se tornou o que deveria ter sido desde o jantar mas não pode ser. A força finalmente se fora, virou mar.
Isso bastou para parar tudo, naquela noite ele soube que nada que dissesse ou fizesse tocaria a poesia, nada a faria voltar. Naquela noite ele também se fez mar.


*Romance de Leon Tólstoi
**Refere-se a um termo do livro A Insustentável Leveza do Ser de Milan Kundera

A Tangerina e o Bagaço

Posted on 22:19 In:





















Essa tarde andei pensando sobre a Tangerina e o Bagaço. Como as pessoas se confundem quanto a idealizações dos próprios fantasmas passados e como é fácil esquecer o que não faz parte deles.
O coração é algo engraçado, revive sentimentos maravilhosos, apaga o que não deveria ser lembrado e prega peças... insiste em (re)afirmar o que queremos mas já aprendemos que não devemos. Faz parecer tão simples e até mesmo belo. Até que um dia o que era fresco e firme murcha, só nos resta bagaços... pedaços desfeitos de começos perfeitos.
Andei lendo Sylvia Plath e me deparei com um trecho a respeito de tudo isso, Sylvia descreveu algo semelhante ao dizer que não é possível recomeçar a cada novo segundo. Que temos de julgar a partir do que já está morto. Como areia movediça, invencível desde o início...
Sim, o que está morto é invencível, mesmo assim, teimamos numa comparação onde só o passado ganha. Só há como vencer o passado renunciando o presente, renunciando seus fantasmas. É preciso voltar ao passado e descobrir se ele é maior do que todas as insatisfações que o fizeram se tornar um pretérito mais que perfeito, que só é perfeito nas armadilhas do coração.
Ah, mas como os mortos são repletos de ideais, como são amados! Tudo que é distante causa-nos uma intensa repulsa ou fascínio. Desvia-nos do novo, do desconhecido... Tão incerto. O passado é seguro, a segurança vence as insatisfações, apaga-as... Deixa-nos sorrisos dos começos e por fim, nostalgia.
Quando nos somos capazes de vencer o passado (quando é necessário que ele seja vencido) pode ser tão tarde.. a areia movediça não consta forças, se desfaz feroz sobre nossas cabeças.
Percebi quando vi que passei todo esse tempo fugindo, presa ao passado... e por fim, o relógio me anunciou as últimas badaladas.
Todos os medos, dúvidas e anseios que depositei sobre você, de repente recaíram sobre mim. Eu sei como é difícil... sei melhor do que ninguém. É maravilhoso reviver secretamente aquelas primaveras.
Portanto, se lhe restam dúvidas faça o que deve ser feito, vá buscar o que procura, viva o que ainda não foi resolvido. E.. se achar que deve retornar algum dia, volte... talvez eu ainda esteja por aqui...
Escolho não estar enquanto houver dúvidas, enquanto formos um remédio dos erros passados. Não porque eu não deseje o presente, eu o desejo, mais do que tudo. Mas o desejo como uma fina gaze diáfana, frágil mas clara... e tudo o que você tem me mostrado desde que abriu tumbas está prostrado, pesado.
Desejo es muss sein, sem fantasmas além de Bethoven.

Um Nome

Posted on 19:03 In:




























Me disseram certa vez, que é preciso coragem para escrever na primeira pessoa. Não sei o que esboçar quanto a minha dificuldade de escrever sobre Caroline... Me perco nas frases, confundo sentimentos e chego a me envergonhar. Me pego desviando de toda a gramática de uma forma estupidamente imatura.
Caroline... só eu a chamo assim sempre, a batizei dessa forma no momento em que ela me presenteou com um nome diferente do que eu costumava ter - ser conhecida. Meu novo nome poderia ter sido associado a tantas outras memórias do passado, mas mais do que tudo pertencia naquele momento as justificativas de Caroline.
No começo, confesso que não o sentia como substantivo próprio, mas logo cedi quando, com voz mansa, disse-me que era mais bonito assim e que, portanto, seria assim - es muss sein.
Logo, não senti incômodo ao tratá-la de uma forma diferente também, não foi proposital. Nunca entendi porque não me referia a ela pelo apelido que todos a chamavam, justifico pra mim mesma através da perspectiva em que a conheci, de ser pra ser. Não houve ninguém pra nos apresentar, foi um novo mundo isolado de conceitos, grupos e nomes.
Não confessei que também achava mais bonito chamá-la pelo nome próprio, simplesmente nunca consegui pronunciar Carol. Carol não fazia parte do que ela era pra mim, tornou-se Caroline desse dia em diante. No momento em que partirmos, cada qual para seu próprio caminho, Caroline partirá junto e deverei chamá-la de Carol. É preciso que seja assim - es muss sein.