A grande marcha não era necessariamente para encorajar beleza ou mostrar força, na verdade ela se encontrava em um pequeno objeto, aquele velho livro.
Não havia nela entusiasmo e muito menos leveza nas saias das grossas pernas juvenis, a grande marcha era passado e presente, o descartar de um futuro e, dentro do Eterno Retorno*, a imponente roda da fortuna.
Hoje eu vi o sol morrer pensando no pai, no sereno da noite, escutei mais uma morte no azul da lua. É o óbito de sensações ao pensar no meu livro, na minha história e o que ela significa expressa em outras histórias...
Minha heroína, que não passa de uma libertina com um chapéu de coco, fugindo estupidamente do amor considerado ideal. Meu herói, alguém cuja leveza tornou-se defeito e é obsessivamente idolatrado, na esperança da mudança ajustável. A minha pequena... ah, o que dizer da minha pequena? Ela não merecia ser taxada de mais uma vítima, frágil até os ossos, até parece se deliciar com esse papel. Só se esqueceram de contar como ela destrói toda a leveza do herói nas últimas páginas.
Não, essa não é a minha história.
A minha história é o mais belo e efêmero dos pesadelos, não criou personagens além das simbologias numéricas de Sofia.
Não se enquadrou em fatos, é o Eterno Retorno vivo, emoldurou a fortuna em desuso e gritou a plenos pulmões: einmal ist keinmal!
Gritou para se sentir viva, para nunca esquecer que uma vez não conta, que uma vez é nunca. É preciso três, sete, doze para amar todos os es muss sein.
E como eu os amo.

"Olhar o pátio, impotente, e não conseguir tomar uma decisão; ouvir o ruído obstinado do próprio ventre num momento de exaltação amorosa, trair e não saber parar na estrada tão bela das traições; erguer o punho no desfile da Grande Marcha [...] conheci e eu mesmo vivi todas essas situações; de nenhuma delas, no entanto, saiu o personagem que eu mesmo sou no meu curriculum vitae. Os personagens do meu romance são minhas próprias possibilidades que não foram realizadas. É o que me faz amá-los, todos, e ao mesmo tempo a todos temer. O que me atrai é essa fronteira que eles atravessam (fronteira além da qual termina o meu eu)." - Milan Kundera


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