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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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O Fim não tem Fim

Posted on 23:18 In:




















Hoje de manhã, como todo dia, tomei um banho e comecei a arrumar a casa ouvindo música. De repente me deparo com uma frase sendo repetida várias vezes: "The end has no end.../O fim não tem fim..)".
Nesse momento, comecei a ir a fundo nessa frase e interpretar seu significado dentro das relações humanas e de minha própria vida. No mesmo instante, a primeira coisa que me veio a cabeça foi um rosto antigo e cheio de rancor que tive de rever ontem durante toda a noite...
Não é simples ignorar as pessoas que guardamos inimizade. Não gosto, e nem pretendo me manter fria a ponto de ignorar alguém - mesmo pessoas que já causaram profundo dano algum dia na minha vida.

O fim não tem fim, pois o próprio fim significa o começo de uma atenção negativa voltada pra alguém. Aquela pessoa sempre estará lá, conseguirá finalmente ser importante, ter atenção, mesmo que negativamente.

O fim prolongado também me fez lembrar outras pessoas que não vejo há quase um ano, e não tenho vontade de ver um dia sequer. Mas continuam sendo pessoas que são capazes de entrar na minha vida todos os dias por meio de lembranças ocasionadas novamente pelo fim.
Nunca gostei de tais lembranças, mas eu sei que são necessárias. Como também sei que um dia elas finalmente irão embora pra nunca mais voltarem.
Mas o fim também pode ter seu lado bom.
Foi o fim que me trouxe de volta o brilho nos olhos, levando pra longe todo o peso de um olhar avelã e trazendo de volta consigo um sentimento terno escondido em jabuticabas, que nunca imaginei um dia sequer ser capaz de encontrar.
O fim me trouxe o começo de muitos dias em antigos jardins de outrora.

Calendário

Posted on 21:57 In:



















Está quente aqui acolhida entre seus braços e abraços.
Queria neste dia olhar bem pros seus olhos, porque você não me sentes como eu te sinto, e tudo devido a uma cegueira incontrolável asfixiada por subjeções.
Porque eu sei em mim que o que é teu ainda não me pertence.
Na dor do meu prazer coberto pela percepção de que a partida está próxima, e ela é triste no meu anseio maior.
Já sei que em pouco tempo vou acordar e o corpo que eu conheci tão bem, não vai lá estar no quente dos lençois. Mas só por baixo do meu corpo frio de saudade.
Já sei que as minhas mãos são duras para a pessoa em que me tornei na minha frieza face plantada à falsos sorrisos.
Não sei viver mas sei fingir, abrigo-me à sombra da minha força que ainda não existe e por mais lágrimas que largue no chão - sem chão - deste trapézio que é só meu, eu sei que desta queda - que não é queda e só me fez escorregar - eu só vou me levantar mais alta.
Eu sei que no carinho que te tenho - e sempre tive - me levanto desta cama hoje com a certeza de ser em mim aquilo que sou: tão maior, tão mais forte e tão mais alta.

Esta será só a primeira de muitas noites que virão.

Posted on 01:06
















Não acredito mais no tão debatido "free love".

Pensamentos

Posted on 21:28 In:

Se Shakespeare nunca houvesse existido, perguntou-se, seria hoje o mundo muito diferente do que é? Será que o progresso da civilização depende dos grandes homens? Seria o destino do ser humano médio melhor hoje do que no tempo dos faraós? Contudo, continuou se indagando, será o destino do ser humano médio o critério para julgarmos a civilização?
Possivelmente não. Possivelmente o bem-estar da humanidade exige a existência de uma classe de escravos. O ascensorista do metrô é uma necessidade eterna.
Esse pensamento lhe foi desagradável. Sacudiu a cabeça. Para evitálo, acharia algum mode de se opor à superioridade das artes. Argumentaria que o mundo existe para o ser humano médio, que as artes são mero adorno imposto à vida humana e que não a expressam.
Nem Shakespeare é necessário. Sem saber precisamente por que queria desprezar Shakespeare e chegar à libertação daquele homem que fica eternamente à porta do elevador, arrancou bruscamente uma folha da sebe como um homem que se estica, no seu cavalo, para pegar um ramo de rosas ou encher os bolsos com nozes, trotando à vontade através das planícies e campos de um lugar conhecido desde a infância. Tudo lhe era familiar; essa curva, essa cancela, aquele atalho através dos campos. Passaria horas seguidas numa noite pensando assim, com seu cachimbo, vagando de um lado para o outro nas velhas e familiares planícies e pastos, que identificava pela história de uma campanha aqui, a vida de um homem de Estado mais adiante, por poemas e anedotas, e também por figuras ilustres, por este pensador, aquele soldado; tudo muito rápido e claro; mas por fim a planície, o campo, o pasto, a nogueira cheia de frutos e a sebe florida o levavam além da curva da estrada, onde sempre desmontava do cavalo, amarrava-o a uma árvore e prosseguia a pé, sozinho.
Era seu poder, seu dom, dispersar todas as superficialidades, encolher e diminuir, parecendo mais despojado e se sentindo até fisicamente poupado, sem contudo perder nada da intensidade de sua mente. Permanecendo de pé ali, naquela ponta de terra, voltado para a escuridão da ignorância humana, pensava que nada sabemos e em como o mar corrói o solo onde estamos - era esse seu destino, de todos os gestos e superficialidades, todos os troféus de nozes e rosas, tendo mirrado tanto, que se esquecera de seu próprio nome, manteve, mesmo naquele deserto, uma vigilância que não dispensava nenhuma imagem, nem se dispersava em visão alguma.

- Mas o pai de oito filhos não tem outra alternativa... - murmorou a meia voz. Deteve-se, voltou-se, suspirou e, erguendo os olhos, procurou a figura de sua esposa contando histórias para seu filho pequeno; encheu o cachimbo. Fugiu à visão da ignorância humana, do destino humano e do mar corroendo a terra onde pisamos, e que, fosse ele capaz de encarar fixamente, talvez tivesse levado a algum resultado; e econtrou consolo em insignificâncias tão pequenas, se comparadas com o magnífico tema que tivera diante dos olhos ainda há pouco, que se sentiu inclinado a reprovar esse consolo, desvalorizá-lo, como se o fato de ser apanhado feliz num mundo de misérias, para um homem honrado, constituísse o mais desprezível dos crimes. Era verdade; ele era quase completamente feliz; tinha sua esposa; tinha seus filhos; prometera que dali a seis semanas diria "algumas tolices" aos jovens de Cardiff sobre Locke, Hume, Berkeley e as causas da Revolução Francesa.
Mas isso, e o prazer que lhe proporcionava, as frases que compunha, o ardor da juventude, a beleza de sua mulher - tudo tinha de ser desvalorizado e dissimulado sob a frase "dizer tolices", porque, com efeito, não fizera o que poderia ter feito. Era um disfarce; era o refúgio de um homem que temia se apoderar de seus próprios sentimentos, que não podia dizer: É disso que eu gosto, é isto o que sou; e isso parecia bastante lastimável e desagradável a William Bankes e Lily Briscoe, que se perguntavam por que ele precisava dessas dissimulações, por que precisava sempre de elogios, por que um homem tão valente no terreno do pensamento era tão tímido na vida, e pensavam como ele era estranhamente respeitável e ridículo ao mesmo tempo.






























Quem culparia o capitão da esquadra condenada se, tendo-se aventurado ao máximo e esgotado toda a sua força, e tendo adormecido sem pensar muito se acordaria ou não, agora percebesse, por uma comichão nos dedos dos pés, que ainda vivia?
Em geral, não tinha objeção alguma quanto a viver; exigia apenas simpatia e uísque, e alguém para ouvir a história de seu sofrimento naquele mesmo instante.
Quem o culparia? Quem não se rejubilaria secretamente quando o herói tirasse sua armadura e, parando sobre junto à janela, olhasse sua mulher e seu filho - a princípio muito distantes, mas gradualmente se aproximando, até que lábios, livro e cabeça surgissem nitidamente diante de si, embora ainda adoráveis e estranhos devido à intensidade da solidão dele, ao passar dos séculos e ao findar das estrelas -, e, finalmente, colocando o cachimbo no bolso, curvasse sua cabeça diante da mulher? Quem o culparia se ele prestasse homenagem à beleza do mundo?





























Em algum momento de intimidade - quando histórias de grandes paixões, de amores malogrados, de ambições contrariadas se apresentavam a ela - poderia ter falado sobre quem conhecera, ou o que sentira e passara, mas nunca dissera nada. Estava sempre em silêncio.
Nesses instantes sabia - sabia sem ter aprendido. Sua simplicidade penetrava no que as pessoas hábeis falsificavam. A sinceridade de seu espírito a fazia dirigir-se às pessoas tão diretamente como um fio de prumo, e pousar sobre seu objetivo com a exatidão de um pássaro, o que dava a ela normalmente essa inclinação para a verdade que deleitava, tranquilizava, sustentava - falsamente talvez.

***

"Mas ela sabe menos da própria beleza que uma criança", dissera o sr. Bankes ao pousar o receptor, atravessando a sala para ver o progresso dos trabalhadores no hotel em construção atrás de sua casa.
Assim, se pensava apenas em sua beleza, precisava lembrar-se dessa vitalidade, dessa agitação (os operários carregavam tijolos por uma prancha enquanto os olhava), e integrá-las na sua imagem; ou caso se pensasse nela apenas como uma mulher, era preciso dotá-la de uma certa excentricidade idiossincrásica; ou supor nela um desejo latente de se libertar da realeza de sua forma, como se a sua beleza e tudo o que os homens diziam sobre ela a aborrecessem, e ela quisesse ser tão-somente como os outros: insignificante.
Ele não sabia.

Rapsódia

Posted on 19:59 In:





















Os olhos dela, translúcidos de emoção, arrogantes de trágica intensidade, encontraram os dele por um segundo e pestanejaram à beira do reconhecimento; mas então, esboçando um gesto até o rosto, como para afastar, expulsar, numa agustiante e persistente vergonha, o olhar deles, que era absolutamente normal, Ramsay pareceu implorar-lhes que refreassem por um momento o que ele sabia ser inevitável, como se impusesse a eles seu próprio ressentimento infantil por ter sido interrompido.
Contudo, mesmo no momento da revelação, não seria completamente destroçado, estava decidido a reter algo dessa deliciosa emoção - essa impura rapsódia de que se envergonhava, mas com a qual se deleitava.

Palavras não são tudo

Posted on 08:30 In:





















Por mais que seja fácil odiar alguém ou suas ações, perdoar pode ser bem mais simples do que parece.
A questão é apenas o quanto você se importa e ama quem errou.
Hoje de manhã, após relembrar uma longa conversa noturna, percebi que a questão não é apenas não sentir nada pelo que o outro fez, ou simplesmente não se importar...
Tem pessoas que ocupam um lugar tão vasto em nossas vidas, que já estão perdoadas antes mesmo de pisarem na bola.
Mas só porque alguém diz que sente muito não significa que o erro nunca existiu.
Não é simplesmente só perdoar. E o que fica? Ou indo um pouco além, o que não fica?
Perdemos confiança, respeito e lealdade. Sobram apenas escombros: insegurança, anseio e uma angustia corrosiva no peito: será que vai acontecer de novo?
Aprendi da pior forma, que as pessoas na primeira chance que tiverem, agirão de forma desprezível. Principalmente se houver um rápido perdão.
Parece frio, mas acreditem, não é. Afinal, ninguém comete o mesmo erro duas vezes, se da primeira vez estiver sido claramente exposto e análisado - para quem o cometeu - exatamente o que houve de errado ali, e o que ele irá perder se isso acontecer de novo.
Isso me lembra muito Maquiavel ("Um líder deve ser amado e temido, mas se a primeira proposta não funcionar, melhor ser temido.") que de muitas formas foi julgado calculista, mas não podemos discordar que ele teve razão e apenas expôs o caminho mais fácil de lidar com a população, principalmente no surgimento de problemas.
Talvez isso não sirva só para os seguidores de Maquiavel, pois o amor pode ser estúpido o bastante a ponto de perder sentimentos recíprocos valiosos em troca de absolutamente nada.
Mas quem disse que se manter insensível é também uma tarefa simples?
O amor não basta*, nem nunca vai bastar.
Não pra
mim.




*É a segunda vez que essa frase é repetida aqui.
























Ele não disse nada. Tomara ópio.
As crianças diziam que tingia a barba de louro com ópio. Talvez.
O que lhe parecia óbvio é que o pobre homem era infeliz, e vinha para ali todos os anos como uma fuga; e mesmo assim, a cada ano ela sentia a mesma coisa: ele não confiava nela.
Dizia-lhe: "Vou à cidade. Quer selos, papel, fumo?", e o sentia estremecer. Não confiava nela.

Ele era descuidado; derramava coisas no casaco; tinha o cansaço de um velho sem nada para fazer na vida; e ela o pusera porta afora. Ela dissera, com seus modos odiosos: "Agora a sra. Ramsay e eu queremos conversar", e a sra. Ramsay pôde ver assim, com seus próprios olhos, as inumeras infelicidades de sua vida.

Teria ele dinheiro suficiente para comprar fumo? Teria de pedi-lo? Meia coroa? Dezoito pence?
Ah ela não podia suportar o pensamento das pequenas indignidades que ela lhe impusera. E sempre, agora (por quê, de alguma forma, àquela mulher), ele fugia dela. Nunca lhe contava nada. Mais o que mais podia fazer?
Ela lhe reservava um quarto ensolarado.
Na verdade, ela se desviava do seu caminho apenas para ser gentil.
Quer selos? Quer fumo? Aqui está um livro de que deverá gostar, etc.

Ofendia-a que ele lhe fugisse. Magoava-a. E ainda, fugia-lhe de forma errada, incorreta. E por isso, quando o sr. Carmichael fugia dela, como fez naquele momento, refugiando-se em algum canto onde comporia acrósticos sem fim, não se sentia repudiada apenas em seu instinto, mas consciente da mesquinharia que havia em alguma parte dentro dela e da imperfeição dos relacionamentos humanos, e de como as pessoas era desprezíveis e egoístas, por mais que se esforçassem.

Posted on 18:34 In:





























Era tão doloroso lembrar-se de que as relações humanas são falhas e não resistiam ao exame a que ela as submetia em meio ao amor e sua ânsia de veracidade; no instante em que lhe era penoso sentir-se convencida da sua indignidade de cumprir suas funções devido a essas mentiras, esses exageros...

Posted on 22:16





























Nem tudo são flores,
mas quando estou com você,
em qualquer jardim pode estar ensolarado.





























Você é mais, muito mais.
Não há como descrever melhor o que você representa na minha vida além de "mais", sempre mais do que eu poderia esperar.
Mais do que eu poderia idealizar, criar ou até mesmo moldar.
É maior e mais profundo do que todo desejo e anseio que ousaram se aproximar.
Romances baratos e diabéticos não podem ser mais mal contados do que o que tivemos...
Nem "1001 filmes" que ilustraram tantas noites mal dormidas com suor e gargalhadas naquela cama.
Você sabe me fazer sorrir, sorrir de verdade.
Poderia ter sido rápido, e teve tudo para ser passageiro... mas se mantém estranhamente pleno.
Tem toda razão, você não é o homem que eu vejo em você.
Isso porque jamais pude idealizar tal homem
Eu apenas vejo o único homem que sei amar.


19/08/09