A precariedade das perpectivas se abate sobre as olheiras profundas, a pela fina, roxa e abatida.
É como diziam: mente vazia oficina do diabo. Do diabo não sei ao certo qual intertextualidade escolher, mas sei que a cama cresce, a mente padece, o corpo perde peso e os cabelos caem.
Estou cansada de estar cansada. Estou exausta de não me mover, o vento continua soprando no meu rosto, a vida continua a ir e o que mais é essa falta além de perder tempo esperando as rugas aparecerem?
Não consigo chorar por mais de alguns minutos, sou incapaz de manter até mesmo o estado de felicidade quando o alcanço.
Abandonei o corpo depois que a mente resolveu se enterrar de novo na areia escura. Foi-se pele, carne, brilho e textura.
Não quero roupas, tudo que escolho me cai mal. Não quero espelhos, não gosto do que vejo. Não quero pessoas, me sinto patética perto delas. Não quero você, não quero nossa vida inútil e comum. Não quero te afundar comigo, hoje você deixou claro sem nenhuma palavra que está farto de me salvar.
Fico sozinha mais uma noite com a cama grande e os calmantes. Na mente falta o Lithium, no corpo antibiótico, no estomago a comida e na boca o seu gosto.
Nada é mais patético do que a auto piedade, saber disso machuca mais. Nada mais ignorante do que desistir de si mesmo, do que cogitar por horas a fio se realmente vale a pena... Desistir aos poucos é mais fácil. A covardia se escancara mesmo na mais drástica decisão.
O que ronda no teto do quarto não é mais o fato de que não faria diferença, é a certeza de que sim, faria diferença, aliviaria o peso, o fardo o físico dos que não suportam mais ser estepes.
Penso que juntando tudo que causo a eles, o peso poderia ser maior do que o que sinto agora me inclinando sobre a cartela de valium.
O insustentável peso de Ser é a explicação da paixão dos suicidas.