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About a Girl

Minha foto
"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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E assim Perséfone* ainda sonha

Posted on 18:32 In:

"Eu não sei me conter, não é?
Dê-me vinho, eu bebo tudo e jogo a garrafa no mundo.
Aqui vou eu, arrastando-me do mundo...
Com minha saliva fresca sobre a Bíblia."


[...]

Acordei com frio. A frase ainda na mente. Havia sonhado, de novo, com o trecho do filme O Libertino. Na verdade meus sonhos andavam estranhos, eu estava decorando o preâmbulo e o epílogo desse filme. Não foi brincadeira, já aconteceu com outras coisas, mas nunca com textos tão longos, e esse era quase toda noite.
Nesses momentos, em que eu acordava meio fora do mundo, eu não conseguia me olhar no espelho. Meu corpo inteiro ficava vermelho vivo e coçava muito, como uma viciada em heroína que no lugar da heroína tinha overdoses de sonhos.
Sentia uma leve pressão no meu peito, sufocante, minha garganta doía.
As vezes era tão forte, que eu achava ainda meio dormindo, que iria morrer assim como o personagem do filme. Não ficava triste nem aterrorizada, era só uma sensação pós sonho intenso.
Mas na maioria das vezes, ligava essa sensação, ao fato dessas insônias noturnas me darem a impressão que eu estava velha. Eu me sentia velha de todas as formas, menos da mais básica, minha imagem virtual.
Eu me olhava no espelho, via uma jovem. Não, não podia ser eu, aquele corpo quase adulto quase infantil não podia ser o meu.
Passava uma água no rosto e acordava um pouco. Pensava: eu gosto da minha aparência, mesmo mudando tanto esse cabelo, eu até gosto dele. Mas porque a nesses momentos de insônia eu penso assim? E todas as noites isso acontecia tão rápido! Essa 'mutação' se é que posso chamar assim. Eu estava com a imagem errada, tinha vontade de gritar que eu tinha 23 anos pra garota. Dizer pra ela que todos aqueles rapazes e amigos eram errados, tudo era jovem demais, e falavam demais. Aquela época não se calava.
De manhã o pesadelo acabava e eu n sentia nem um pingo dessas impressões até que em alguma noite eu acordasse de novo recitando quem sabe Shakespeare?
Eu ia ao shopping, as festas legalizadas e sem graça e adorava. Eu era jovem e queria ser sempre assim, a velhice só me lembrava da pressão sufocante no peito e das noites em frente o espelho.
Será que aquilo tudo era real?
Escancarava a janela, anoitecia e me faltava ar.
Sufocava a noite nos sonhos da mulher dançando nua na enorme casa vazia e tinha inveja do seu desprendimento da juventude.
Juventude clichê, sem nada na cabeça além das luzes na ponta do cabelo e bonezinho diesel na cabeça. Só acham o que os outros acham, só leram Código da Vinci e Harry Potter. Só se emocionaram vendo Um Amor Pra Recordar e riram assistindo a comédia As Branquelas. Consideram Madonna música antiga e amam Rebelde. Malhação? Big Brother? Programas obrigatórios para não faltar assunto com os seus. Festas? Chamam de balada e é Psy, Trance e Raggae. Fim de semana? Shopping. Literatura? Algum trecho de uma poesia de Fernando Pessoa tirado do msn ou fotolog de alguém.
Apesar de tudo são seres pretensiosos, filosóficos sem fundamentos concretos e sem nenhum pensamento interessante a passar uns pros outros.

(Será que fui eu, Alice, quem disse isso?)
Por que as pessoas ainda querem ser assim?




*Perséfone: Esposa de Hades. Comandava o mundo inferior a seu lado.

Pálida Ausência

Posted on 17:28 In:

As vezes eu pensava em tudo que ele havia feito pra mim, parecia simples, muito simples. Mas não foi apenas um se afastar do outro, mudou toda a minha vida e toda a confiança que eu depositava nas pessoas.
Antes deu sentir ódio profundo, eu sempre tinha vontade de procurá-lo ou até mesmo saber como ele estava. Por incrível que pareça, eu me preocupava de verdade.
Talvez por saber que ele não fez tudo sozinho, e mesmo se dando de vítima no final e presente, é aquele velho ditado: você se magoa mais com os que mais ama.
As vezes eu passava horas me deliciando com ameaças chantagistas e sem graça que eu nunca faria, mas era bom imaginar palavra por palavra que eu diria a ele.
Uma vez, tive um mórbido pensamento, que ainda não sei o porquê levei a fundo. Pensei em deixar um bilhete, verdadeiro, com todas as minhas ameaças e mágoas escritas numa frase curta e simples.
Um belo exemplo dos pensamentos sem graça que eu me metia, e uma hipótese sem fundamentos, claro. Eu não iria fazer nada disso, havia tempos que não ousava me aproximar da vida dele mais, mas por curiosidade, poderia ser melhor que qualquer conversa com qualquer pessoa.
Então resolvi ir a fundo na e escrever o tal bilhete, que por fim virou carta:

(Antes de tudo o nome dele estaria do envelope lacrado)
"Poisé, aqui estou eu, me arrastando das pessoas com ódio fresco na saliva (bem filme trash, mas foi muito bom confesso).
Me chame de fraca se quiser, mas me chame de tudo que não pode mais me chamar. (Toda carta nesse estilo tem uma frase assim)
Não teve um só dia que não te odiei, e te arranquei daquele imenso pedestral que te coloquei na mais pura cegueira e ingenuidade.
Eu nunca fui nada pra você, e hoje sei bem disso. A verdade eu que eu sempre soube e fingia que não era bem assim... que era seu jeito ou que você mudaria.
As pessoas não mudam.
Então é isso.
Desejo com toda a sinceridade que ainda me resta que você nunca seja feliz e nunca esqueça que eu vou te odiar, sempre."

Nessa noite, senti que fui longe demais com todos esses pensamentos cheios de ódio e rancor manchados em toda a confiança que eu tinha nas pessoas.