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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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Desespero

Posted on 09:35 In:

Você que sempre pareceu tão cheio de si,
na verdade é fraco, é indefeso.
Procura segunça em tudo, grita e geme desesperadamente por defesa e calor.
Fumaça Fétida.
Você é fraco sim.
Você é sozinho, você já se acostumou sem perceber com essa solidão.
Quando todas as suas ilusões e fantasmas cômodos se forem, você vai morrer.
E sozinho.
Sem a mão de Antônio, sem lágrimas.
Até a cortina rasgada te substituiu.
A mágoa te substituiu.
A falta te substituiu.
O medo te substituiu.
O amor próprio te substituiu.
E o coração de Jenny também.

Tenho sempre diante dos olhos Tereza sentada sobre um tronco, acariciando a cabeça de Karenin, e pensando no desvio da humanidade. Ao mesmo tempo, surge para mim uma outra imagem:
Nietzsche está saindo de um hotel em Turim. Vê diante de si um cavalo, e um cocheiro espancando-o com um chicote. Nietzsche se aproxima do cavalo, abraça-lhe o pescoço, e sob o olhar do cocheiro, explode em soluços.

Isso aconteceu em 1889, e Nietzsche já estava também distanciado dos homens. Em outras palavras: foi precisamente nesse momento que se declarou sua doença mental. Mas, para mim, é justamente isso que confere ao gesto seu sentido profundo.
Nietzsche veio pedir ao cavalo perdão por Descartes. Sua loucura (portanto seu divórcio da humanidade) começa no instante em que chora sobre o cavalo.

É Nietzsche que amo, da mesma forma que amo Tereza, acariciando em seus joelhos a cabeça de um cachorro mortalmente doente. Vejo-os lado a lado: "senhora e proprietária da natureza", prossegue sua marcha para a frente.

Tereza acaricia a cabeça de Karenin, que descansa tranqüilamente em seus joelhos. Faz mais ou menos este raciocínio: não existe nenhum mérito em sermos corretos com nossos semelhantes.
Tereza é forçada a ser correta com os outros moradores da aldeia, ou não poderia viver ali; e, mesmo com Tomas, é obrigada a se portar como mulher amorosa, pois precisa dele.

Nunca se poderá determinar com certeza total em que medida nosso relacionamento com o outro é o resultado de nossos sentimentos, de nosso amor, de nosso não-amor, de nossa complacência, ou de nosso ódio, e em que medida ele é determinado de saída pelas relações de força entre os indivíduos.


No começo do Gênese está escrito que Deus criou o homem para reinar sobre os pássaros, os peixes e os animais.
É claro, o Gênese foi escrito por um homem e não por um cavalo.
Nada garante que Deus desejasse realmente que o homem reinasse sobre as outras criaturas. É mais provável que usurpou da vaca e do cavalo. O direito de mata um veado ou uma vaca é a única coisa sobre a qual a humanidade inteira manifesta acordo unânime, mesmo durante as guerras mais sangrentas.

Esse direito nos parece natural porque somos nós que estamos no alto da hierarquia. Mas bastaria que um terceiro entrasse no jogo, por exemplo, um visitante de outro planeta a quem Deus tivesse dito: "Tu reinarás sobre as criaturas de todas as outras estrelas", para que toda a evidência do Gênese fosse posta em dúvida. O homem atrelado à carroça de um marciano - eventualmente grelhado no espeto por um habitante da Via-láctea - talvez se lembrasse da costeleta de vitela que tinha o hábito de cortar em seu prato. Pediria então (tarde demais) desculpas à vaca.
Deus encarregou o homem de reinar sobre os animais, mas podemos explicar isso dizendo que ele apenas emprestou ao homem esse poder. O homem não era o proprietário mas apenas o gerente do planeta, e um dia teria de prestar contas de sua gestão.
Descartes deu um passo decisivo: fez do homem "maître et propriétaire de la nature". Que seja precisamente ele quem nega de maneira categórica que os animais tenham alma, eis aí uma enorme coincidência. O homem é senhor e proprietário, enquanto o animal, diz Descartes, não passa de um autômato, uma máquina animada, uma machina animata. Quando um animal geme, não é uma queixa, é apenas o ranger de um mecanismo que funciona mal. Quando a roda de uma charrete range, isso não quer dizer que a charrete sofra, mas apenas que ela não está lubrificada. Devemos interpretar da mesma maneira os gemidos dos animais, e é inútil lamentar o destino de um cachorro que é dissecado vivo num laboratório.
O mundo deu razão a Descartes.

Vá, se quiser eu nunca tentei impedí-la
sei que há agora um motivo para tudo isso,
você está magoada e a culpa não é minha

Você não poderia ter me amado mais
não poderia ter me amado mais
não poderia ter me amado...

Eu,
eu não demonstro muito.
Não é fácil esconder,você vai ver
daqui uns tempos eu não lembrarei mais
como ser tudo o que você queria.

Eu não poderia tê-la amado mais
eu não poderia amá-la mais
eu não poderia amar...

Você quer que eu chore e interprete o meu papel
Eu quero que você se arrependa e se desespere
Nós queremos isso como todo mundo.

Fique se você quiser,
eu sempre espero para ouvi-lá dizer que há um ultimo beijo.
Para todas as vezes que você fugiu assim,
escute: a culpa não é minha

Você não poderia ter me amado mais
não poderia ter me amado mais
me amado mais.
Eu não poderia tê-la amado mais
eu não poderia amá-la mais
eu não poderia amar.

Você quer que eu minta e não a magoe
Eu quero que você voe, e não pare nunca
Nós queremos ser como todo o resto.

Talvez nós não tenhamos entendido,
não somos só um rapaz e uma garota
É apenas o fim, do fim do mundo.

Eu não poderia tê-la amado mais
eu não poderia amá-la mais
eu não poderia amá-la mais
eu não poderia amar.


A janela dava para uma encosta coberta de macieiras retorcidas pelo tempo.
No topo da encosta, uma floresta cortava o horizonte, uma lua branca apontava no céu pálido, era o momento em que Tereza aparecia na soleira da porta.
A lua suspensa no céu, ainda não inteiramente escuro, era como uma lâmpada que tivessem durante o dia todo no quarto dos mortos.


Um francês é diferente do outro.
Mas todos os atores do mundo se parecem – em Paris, Praga, e até mesmo no mais modesto teatro do interior.
É ator aquele que aceita, desde a infância, expor sua vida a um público anônimo.
Sem esse consentimento fundamental – que nada tem a ver com o talento, que é algo mais profundo do que o talento – não se pode ser ator.


Tomas não suportava esses sorrisos, que pareciam estar em todos os lugares, mesmo na rua, no rosto dos desconhecidos.
Não conseguia dormir. Por que? Será que dava tanta importância a essas pessoas?
Absolutamente.
Não as tinha em bom conceito e ficava com raiva de se deixar perturbar pelos seus olhares.
Não havia nada de lógico nisso. Como é que podia ficar dependendo da opinião de pessoas que considerava tão limitadas?

A história de Édipo é bem conhecida: um pastor, tendo encontrado um recém-nascido abandonado, levou-o ao rei Pólibo, que o criou.
Quando Édipo cresceu, encontrou num caminho das montanhas uma carruagem em que viajava um príncipe desconhecido. Os dois se desentenderam e Édipo matou o príncipe.
Mais tarde casou-se com a rainha Jocasta e tornou-se rei de Tebas.
Não suspeitava que o homem que tempos atrás assassinara nas montanhas era seu pai, e que a mulher com quem dormia era sua mãe.
Enquanto isso a má sorte perseguia seus súditos, dizimando-os com doenças.
Quando Édipo compreendeu que era o único culpado por esses sofrimentos, furou os olhos com espinhos e, cego para sempre, partiu de Tebas.


Tomas não pára de tentar persuadi-la de que entre o amor e o ato do amor há uma grande diferença. Ela recusa-se a admiti-lo.
No momento está cercada de homens que não lhe inspiram a menor simpatia. Que sensação lhe daria dormir com esses homens? Tem vontade de experimentar, nem que seja sob essa forma de promessa sem compromisso que é o flerte.

Se para outras mulheres o flerte é uma segunda natureza, uma rotina insignificante, para ela, doravante, é um campo de investigações importante que deve ajudá-la a descobrir aquilo de que é capaz. Mas por ser tão importante, tão grave, seu desejo de agradar perdeu toda a leveza, tornou-se forçado, intencional, excessivo.

Está muito inclinada a prometer, sem mostrar de maneira suficientemente clara que sua promessa não a obriga a nada. Ou por outra, todo mundo pensa que ela é extraordinariamente fácil. Depois, quando os homens reclamam a realização daquilo que lhes tinha sido prometido, esbarram numa súbita resistência que só podem explicar pela crueldade requintada de Tereza.

Franz é forte, mas sua força é voltada unicamente para o exterior.
Com as pessoas com quem vive, com aqueles que ama, é fraco.
A fraqueza de Franz se chama bondade.
Franz jamais daria ordens a Sabina. Nunca mandaria - como Tomas fizera em outros tempos - que ela ficasse inteiramente nua em cima de um espelho e se pusesse a andar de um lado para o outro. Não que lhe falte sensualidade, mas ele não tem força para comandar.
Existem coisas que só podem ser conseguidas com violência.
O amor físico é impensável sem violência.

Sabina via Franz andar pelo quarto carregando bem alto a cadeira pesada para exibir sua força. A cena parecia-lhe ridícula e a enchia de estranha tristeza.

Sabina continuava com suas reflexões melancólicas. E se ela tivesse um homem que lhe desse ordens? Que a dominasse? Quanto tempo ela o teria suportado?
Nem cinco minutos!
Donde concluiu que nenhum homem lhe convinha.
Nem forte, nem fraco.

Disse: - Por que de vez em quando você não usa sua força contra mim?
- Porque amar é renunciar à força - respondeu Franz docemente.

Sabina compreendeu duas coisas: primeiro, que essa frase era bela e verdadeira. Em segundo lugar, que, com essa frase, Franz acabara de excluir-se de sua vida erótica.


Os cemitérios da Boêmia parecem jardins. Os túmulos são cobertos de relva e de cores vivas.
Monumentos humildes ficam escondidos no meio do verde da folhagem.
À noite, o cemitério fica cheio de pequenas velas acesas, como se os mortos estivessem dando um baile infantil.
É, um baile infantil, pois os mortos são inocentes como as crianças.

Por mais cruel que tenha sido a vida, no cemitério existe sempre a mesma serenidade.
Durante a guerra, sob Hitler, sob Stalin, sob todas as ocupações. Quando se sentia triste, pegava seu carro para ir passear longe de Praga num de seus cemitérios preferidos.
Esses cemitérios campestres no fundo azulado das colinas eram tão belos quanto uma cantiga de ninar.

Mas para Franz, um cemitério não passa de um imundo depósito de ossos e pedras.


Era noite e ela andava com passo apressado na plataforma da estação. O trem para Amsterdã já estava à espera.
Procurava seu vagão.
Abriu a porta do compartimento para onde fora conduzida por um amável funcionário e viu Franz sentado num dos leitos. Levantou-se para recebê-la, ela tomou-o nos braços e cobriu-o de beijos.
Tinha vontade de dizer-lhe, como a mais comum das mulheres: não me deixe, me guarde perto de você, me escravize, seja forte! Mas eram palavras que não podia e não sabia pronunciar.
Quando ele afrouxou o abraço ela apenas disse: -Como estou contente de estar com você! - Com sua natural discrição não podia dizer mais do que isso.


A traição.
Desde nossa infância, papai e o professor nos repetem que é a coisa mais abominável que se possa conceber.
Mas o que é trair?
Trair é sair da ordem e partir para o desconhecido.
Sabina não conhece nada mais belo que partir para o desconhecido.


Compreendeu que fazia parte dos fracos, do lado dos fracos, do país dos fracos, e que deveria ser fiel a eles, justamente porque eram fracos e procuravam recobrar o fôlego entre as frases.
Sentia-se atraída por essa fraqueza como por uma vertigem. Sentia-se atraída porque ela mesma se sentia fraca.
Estava de novo com ciumes e suas mãos começaram a tremer. Tomas percebeu e fez um gesto familiar: tomou-lhe as mãos para acalmá-la com uma leve pressão dos dedos.
Ela fugiu.

- O que é que você está sentindo?
- Nada.
- O que é que posso fazer por você?
- Quero que você fique velho. Dez anos mais velho. Vinte anos mais velho!

Com isso queria dizer: quero que você fique fraco. Que você seja tão fraco quanto eu.

Mas era justamento o fraco que deveria saber ser forte e partir, quando o forte é fraco demais para poder ofender o fraco.



(Hoje, mergulhei completamente nesse trecho dessa parte do livro )

"No primeiro plano havia sempre um mundo perfeitamente realista e, um pouco mais ao fundo, como atrás da cortina rasgada do cenário de um teatro, via-se alguma coisa a mais, algo de misterioso e abstrato.
Na frente ficava a mentira inteligível, por trás a verdade incompreesível."

Lua Boite

Posted on 18:36 In:
Jenny,
Quando fui deitar ontem a noite, olhei pro céu,
estava de um azul tão profundo e havia apenas uma estrela.
A luz da cidade que apaga todas as estrelas do céu, é a mesma que deixa uma pra me lembrar do quanto eu te amo.



Fácil sentir.
Difícil é expressar.
Nenhum questionamento é por acaso.
As vezes a felicidade cega as nossas pequenas insatisfações,
mas por um momento, pequeno que seja,
que perdemos essa euforia e liberdade,
a insatisfação aparece muito maior que qualquer sentimento,
e só vai embora depois que magoamos alguém mais próximo.
As vezes só precisamos que alguém sinta.
Sinta exatamente como nos sentimos e principalmente nos sinta como ser humano.
E no fim das contas, os questionamentos são mal feitos, mas feitos.
E os resultados, em sua maioria, pressionados.
Tudo repleto de tédio mal amado.

Ela foi uma princesa
A Rainha da estrada
A placa na estrada disse:
Nos leve á Madre

Ninguém poderia salvá-la,
Apenas o tigre cego
Ele era um monstro, vestido a couro negro

Ela foi uma princesa
A Rainha da estrada

Agora eles estão casados
E ela ainda é uma boa garota
E eles correm pelados como crianças
Lá fora no campo...
Pelados como crianças selvagens que são.

Logo terão filhos para recomeçar tudo novamente
Dançando pelo redemoinho da meia-noite
Sem forma,
Sem roupa
E eu espero que possam continuar assim
por mais tempo

Vertigem

Posted on 11:19 In:

No mesmo dia Tereza caiu na rua; seu passo tournou-se hesitante; caía quase todos os dias, esbarrava nas coisas ou, na melhor das hipóteses, deixava cair todos os objetos que tinha nas mãos.

Sentia um desejo irresistível de cair. Vivia numa vertigem contínua.
Quem cai diz: "Levante-me!"
Pacientemente, Tomas a levantava.

A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

O Sonho

Posted on 10:06 In:

- Tereza, minha querida Tereza, parece que você se afasta de mim. Aonde quer ir? Todos os dias você sonha com a morte, como se realmente quisesse partir...

O sonho não é apenas uma comunicação (as vezes codificada), é também uma atividade estética, um jogo de imaginação, e esse jogo tem em si mesmo um valor. O sonho é a prova de que imaginar, sonhas com aquilo que nunca aconteceu, é uma das mais profundas necessidades do homem.
A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera

A Queda

Posted on 09:51 In:

Ana poderia ter posto fim a seus dias de outra maneira.
Mas o tema da estação e da morte, esse tema inesquecível associado ao nascimento do amor, atraiu-a no momento do desespero por sua sombria beleza.
O homem inconscientemente compõe sua vida segundo as leis da beleza mesmo nos instantes do mais profundo desespero.
A Insustentável Leveza do Ser - Milan Kundera
(continuação do último post)

O Embarque

Posted on 18:14 In:
No pricípio do pesado livro que Tereza carregava em baixo do braço no dia em que viera para casa de Tomas, Ana encontra Vronsky em circunstâncias estranhas. Estão na plataforma de uma estação e alguém acabara de cair sob o trem.
No fim do romance, é Ana que se atira sob um trem.
Essa composição simétrica, onde o mesmo motivo aparece no começo e no fim, pode parecer até "romântica". Admito que seja, mas somente com a condição de que romântico não signifique para você uma coisa "inventada", "artificial", "sem semelhança com a vida".
Porque é assim mesmo que é composta a vida humana.

A insustentável leveza do ser - Milan Kundera

Deseje uma Boa Viagem

Posted on 16:30 In:
Nunca terei certeza
Comigo é sempre sim e não, não, sim, e talvez.
Talvez eu queira mesmo ir embora,
mas Não poderia suportar o fato de que se eu for você também terá de ir.
Mas quando eu penso, com toda a minha alma, meu Sim, minha esperança...
Minha cabeça dói.
Pensar, nesse exato momento, têm me virado ao avesso de carne e sangue.
Mas eu penso.
Penso que mais uma vez eu estou exausta e que todo o amor e afeto que eu esperava naquele momento, passou em branco em mais uma de suas piadas.
Pode ser apenas um momento, mas foi o momento que gerou essas palavras.
Amanhã Sim, tudo passará.
Mas sempre haverá momentos, e palavras.