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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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É tão patético, mas ao mesmo tempo tão belo!
Essa euforia constante e a minha incrível falta de atenção com tudo a minha volta, os pensamentos aleatórios e quanto mais eu sei mais tudo me instiga, o tempo escorre rapidamente sobre as nossas mãos.
Meus Deus! Em que mundo estou?
Porque a praça feia e pichada parece tão bela e ensolarada?
Porque eu esqueci de comer no almoço de segunda?
E porque raios eu passei sabonete íntimo na cabeça no lugar de shampoo?
Tic-tac, tic-tac, tic-tac...
E um dia eu juro, irei jogar esse relógio da janela, e talvez só por hoje eu tome uma dosagem a mais do remédio de dormir...
Quem sabe assim o tempo não passa mais rápido?
Quem sabe assim eu volte a racionalidade e perceba que estou fazendo tudo tão errado... Mas porque parece tão certo?
"Ouse, ouse... ouse tudo!"
Tem toda razão Lou Salomé, esse tal de amor nunca deu certo com as meus pobres rabiscos sujos.

Perfect

Posted on 09:53 In:

Eu sei que nós somos apenas velho amigos
e nós não podemos simplesmente fingir
que pessoas que se amam corrigem erros.
Nós somos razões tão irreais
e não podemos evitar de sentir que alguma coisa foi perdida.

Mas por favor, você sabe que você é como eu
e da próxima vez eu prometo que seremos perfeitos.
Perfeitos,
perfeitos estranhos abaixo do limite
Amantes fora do tempo.
Memórias desatadas.

Tudo tão longe, e eu continuo sabendo quem você é
mas agora eu desejo saber quem eu era...

Anjo, você sabe que não é o fim,
nós sempre seremos bons amigos
e todas as cartas serão enviadas.

Então por favor, você sempre foi tão livre!
Você verá, eu prometo que nós seremos
perfeitos.
Perfeitos estranhos quando nos conhecemos.
Estranhos na rua e amantes enquanto dormimos.

Perfeitos.
Você sabe que precisou ser assim.
Nós sempre fomos tão livres...
E um dia juramos poder ter sido
perfeitos.

Apaguem as luzes.

Posted on 16:49 In:

A apreensão é constante, e aquela curiosidade...
Às vezes uma mistura de saudade com a beleza fútil dos seus olhos.
A respiração é lenta, morna, porém de repente para completamente... Se segura pra mais um mergulho nas suas cartas manchadas, na apreensão de todos os olhares... Porque não se cegam? Porque não se cansam? Porque me seguem? Por quê?
E de repente, respiro.
Tudo volta lento e morno, porque o que era não será mais... e o que foi faz tempo que deixou de ser.
Na verdade, aquele triste canto de violinos não me comove mais.
E todo esse barulho mórbido, só faz a forca sufocar ainda mais lentamente.
Porém incessante.
O amor não basta.




Fui ver o lindíssimo filme do Pedro Almodóvar, o Fale com Ela, e saí pensando num conto da Carson McCullers, em que um homem conta que, antes de amar de novo uma mulher, ele estava aprendendo a amar as pedras, as árvores, as nuvens... Nesse grande filme de Almodóvar, vemos amores raros, feitos de entrega, feitos de compaixão, como uma "doação ilimitada a uma completa ingratidão", como escreveu Drummond, aliás, o poeta do amor impossível, que é o único e verdadeiro amor.

A vitória do Lula também foi uma fome de amor política contra a era da técnica racionalista. Seu governo pode virar até um crime passional ou um folhetim melodramático, mas, hoje, é um grande desejo de happy end para todo o povo. Por isso, pergunto: onde anda o amor? Até isso o mercado estragou?
Sim. O amor já teve um toque sagrado, a magia de uma inutilidade deliciosa, já foi um desafio ao dia-a-dia que nos tirava da vida comum.

Hoje, o amor, como tudo, está perdendo a transcendência. Não existe mais o amante definhando de solidão, nem Romeus nem Julietas, nem pactos de morte, não existe mais o amor nos levando para uma galáxia remota, não existe mais a simbiose que nos transportava a uma eternidade semi-religiosa. O amor tinha uma fome de bondade, de compaixão pelo outro, de proteção à pessoa amada. Isso está acabando. O amor já foi analisado por todas as ciências, a psicanálise mapeou as loucuras que estão sob sua poética, o ritmo do tempo atual acelerou o amor, o dinheiro contabilizou o amor, matando seu mistério impalpável. Hoje, temos controle, sabemos por que "amamos", temos medo de nos perder no amor e fracassar no mercado. O amor pode atrapalhar a produção.

Por isso, o filme de Almodóvar é tão belo e oportuno. Temos de fazer filmes assim, cheios de amor, sem efeitos, sem denúncias. Se eu, um dia, filmar de novo, será para celebrar o silêncio dos amantes ou a beleza do inútil. O amor perdeu a gratuidade, as pessoas "amam" por desejo de ter um amor que não sentem mais. O amor não tem mais porto, não tem onde ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar, não tem mais a utilidade do sacrifício pelo "outro". O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de "olhos de ressaca", nem nas "pernas de Fulana", nem temos as bocas beijadas por amantes "tutti tremanti", nem o formicida com guaraná. Não se diz mais: "Deus sabe quanto amei!...", mas "Deus nem sabe quantos (as) amei..."

A publicidade devastou o amor, falando na "gasolina que eu amo" ("Shell que j'aime"), no sabonete que faz amar, na cerveja que seduz. Há uma obscenidade flutuando no ar o tempo todo, uma propaganda difusa do sexo impossível de cumprir. Como comer todas as moças da lingerie e do xampu, como atingir um orgasmo pleno e definitivo? A sexualidade total, por si só, levaria a uma assexualização desértica. A sexualidade é finita, não há mais o que inventar. Já o amor, não... O amor vive da incompletude e esse vazio justifica a poesia da entrega. Ser impossível é sua grande beleza. Claro que o amor é também feito de egoísmos, de narcisismos mas, ainda assim, ele busca uma grandeza - mesmo no crime de amor há um terrível sonho de plenitude. Amar exige coragem e hoje somos todos covardes.

Amor e sexo. Mas, hoje o mercado exige a satisfação total no amor ou o dinheiro de volta.

Como isso é impossível, deriva para o sexo ou para a sedução. O amor passa a buscar não mais uma entrega, mas um domínio. O amor vira um objeto de consumo, fast-love, com obsolescência programada para durar pouco. O amor deixa muito a desejar. Em geral, o amor existe hoje como uma espécie de adoçante para justificar, legitimar uma tesão ou uma conquista. Os amores duram três edições de Caras. Os casais se permutam num troca-troca rápido e quantitativo. As próprias mulheres estão virando dom-juans. Vejam o périplo de jovens atrizes que vão comendo, um por um, os modelos que surgem nas revistas, elas, que deviam se manter damas inatingíveis para pálidos quixotes românticos.

Estamos com fome de amor cortês, num mundo em que tudo perdeu aura. O terrível bombardeio que a cultura americana está fazendo nos sentimentos é invisível, mas é pior que as bombas contra o Iraque. A cultura americana está criando um desencantamento insuportável na vida social. Tudo é tolerável, num arrasamento de mistérios. Vejam a arte tratada como algo desnecessário, sem lugar, sem uso, vejam as mulheres amontoadas na internet, nuas, com números - basta clicar e chamar. Estamos com fome de infinito em tudo, na vida, na política, no sexo. Por isso, o filme de Almodóvar, cheio de compaixão sussurrada, apoiada na trêmula beleza dos balés de Pina Bausch e no Caetano cantando um pranto dolorido, parece um segredo religioso, uma saudade inexplicável de alguma coisa que existe aquém, antes da vida.

Nos anos 60, liberdade sexual foi uma questão política. Hoje, podemos tudo, podemos casar até com jacarés ou macacas, sem escândalos, desde que não prejudique a produção. Mas, o que invisivelmente está virando uma nova necessidade política é o amor e seus subprodutos: compaixão, paz, justiça.

Aposto que virá aí um novo "desbunde", um novo movimento hippie, sem utilidade, mas sem melancolia autodestrutiva, vêm aí marchas pelo amor, porque ninguém está agüentando mais somente "utilidade" e "desempenho", poder e sucesso. Estamos virando coisas. Precisamos aprender a amar de novo as pedras, as árvores, as nuvens, até chegarmos a nós mesmos... E acho que isso vai surgir na América, como foi nos anos 60 - a luta pelos direitos civis será agora a luta pela beleza da inutilidade.


Você volta assim tão de repente,
Me dá a sensação de que nada se perdeu nem nada se foi...
É como se o tempo que eu fiquei longe de você, não fosse tempo, não fosse nada, apenas algum estado vegetativo qualquer...
O que importa?
Eu estava mortamente feliz antes de você voltar, e eu poderia realmente fingir viver o resto da minha vida assim se não fosse por você, se não fosse por todas aquelas bebidas quentes, por todas as horas de conversas que são tão inutilmente importantes.
Porque você me ressuscitou?
Foi tão mais fácil te matar, foi tão mais fácil nos matarem...
KCl*, ninguém nunca descobrirá o culpado não é?
Mas tem algo além da morte, que não deixou que fôssemos embora de vez,
Algo além dessa ressurreição, além das mentiras e de todos os dias se afogando nas dúvidas e porquês que só me levaram a crer enfim, que a morte não é tudo.
É melhor que você seja o único que carrega a minha verdade, porque o resto do mundo realmente não importa mais...
Porque descobri que KCl não me mata, só me engrandece.

*KCl = O veneno bruto e liofilizado de Bothrops leucurus.


Quando a música termina,
Apagamos as luzes,
Apague as luzes!

Dance no fogo como você sempre sonhou,
A música é sua única companhia
Até o final.

Cancele a minha assinatura para a ressurreição
E mande minhas credenciais para aquela casa de detenção
Talvez lá ainda me restaram alguns amigos

O rosto no espelho não vai parar de se questionar
A garota na janela não vai pular

"Estamos VIVOS!" ele gritou
Antes que eu mergulhe
No grande sono e ele me convide pra entrar,
Eu quero ouvir
Todos os gritos que nos pertencem.

Quando a música termina,
Apagamos as luzes,
Apague as luzes!

Volte, querida.
Volte para os meus braços, ele disse.
Não está ficando cansada de esperar nossas cabeças rolarem no chão?

O que eles fizeram com a Terra?
O que eles fizeram com nossa honestidade?
Destruiram, roubaram, estriparam-na e deram mordidas
Enfiaram nela navalhas ao amanhecer
Amarraram-na com cercas e arrastaram-na para campos de contração.

Eu ouço sua canção
E nós queremos o mundo e nós queremos...
Agora?
Agora!

Então quando a música termina,
Apagamos as luzes,
Apague as luzes!
Apague as luzes e dance no fogo como sempre sonhou!
Até o fim
Até o fim...

A Verdade Dói

Posted on 17:57 In:

Trair?
Alguns toleram demais, outros de menos...
Eu sinceramente não sei em que caminho estou.
Mas o que é trair?
Segundo Milan Kundera:
"Trair é sair da ordem e partir para o desconhecido."
Ah... ele não conhece nada mais belo que partir para o desconhecido.
Como é livre!
-Isso machuca muito?- me perguntaram uma vez-
-Sufoca- respondi-
Talvez pelo fato de que somos todos espertos e sabemos muito bem o que fazer, porém o que há pra se fazer? Quando nossos desejos mais profundos nos indicam que também desejamos mais do que tudo partir para o desconhecido.
Viver nas sombras nos dá segurança, mas nunca aquele êxtase dos corajosos viajantes.
Já quis ser Lara, mas tenho sentimentos demais e um conceito muito fraco de solidão.
Eu tenho você e você tem a mim, e é assim que a máquina funciona, e é assim que nos sentimos desesperadamente seguros e protegidos...
até a verdade aparecer e furar nossa linda bolha de plástico, mesmo que de maneiras forçadas e sujas ela aparece.
Não, definitivamente não me orgulho de nenhum dos meus atos, mas minha criatividade, minhas impressões, me instigam a pesquisar tudo mais fundo e mais fundo, até cair num poço de verdade escura.
E a verdade realmente dói minha criança.


Todo invento da imaginação do ator deve ser minuciosamente elaborado e solidamente erguido sobre uma base de fatos.
Deve estar apto a responder a todas as perguntas (quando, onde, por quê, como) que ele fizer a si mesmo enquanto incita suas faculdades inventivas a produzir uma visão, cada vez mais definida, de uma existência de "faz-de-conta".
Algumas vezes não terá de desenvolver todo esse esforço consciente, intelectual. Sua imaginação pode trabalhar intuitivamente. Mas vocês mesmos já viram, por experiência própria, que não se pode contar com isso. Imaginar em geral, sem um tema bem definido e cabalmente fundamentado, é trabalho infrutífero.
Por outro lado, uma atitude consciente, arrazoada, para com a imaginação, produz, muitas vezes, uma apresentação falsificada e anêmica.
Para o teatro isso não serve.
Nossa arte requer que a natureza inteira do ator esteja envolvida, que ele se entregue ao papel, tanto de corpo como de espírito. Deve sentir o desafio à ação, tanto física quanto intelectualmente, porque a imaginação, carecendo de substância ou corpo, é capaz de afetar, por reflexo, a nossa natureza física, fazendo-a agir. Essa faculdade é da maior importância em nossa técnica de emoção.
Portanto: cada movimento que vocês fazem em cena, cada palavra que dizem, é resultado da vida certa das suas imaginações.
Se pronunciarem alguma fala ou fizerem alguma coisa, mecanicamente, sem compreender plenamente quem são, de onde vieram, por quê, o que querem, para onde vão e que farão quando chegarem lá, estarão representando sem a imaginação. Esse período, quer seja curto, quer longo, será irreal e vocês não passarão autômatos, de máquinas às quais se deu corda.
Se eu, agora, lhes perguntar uma coisa perfeitamente simples: -hoje faz frio?- antes de responder, mesmo com um "sim" ou "não faz frio", vocês, nas suas imaginações, terão de voltar à rua e lembrar como vieram, a pé, ou por algum transporte. Devem por à prova as suas sensações, recordando como estavam agasalhadas as pessoas que encontraram, como levantavam a gola, como a neve rangia sob os seus pés. E só então poderão responder à minha pergunta.
Se obedecerem, rigorosamente, a esta regra em todos os seus exercícios, pertençam ele à parte do noddo programa que pertencerem, verão como se desenvolvem e como ganham força as suas imaginações.