right_side

About a Girl

Minha foto
"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Rabiscos Velhos

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

Powered By Blogger





























[...]
39 De mesas tortas jogam meus sonâmbulos,
40 Meus líderes, meus deuses. Como ocultam
41 As cartas limpas, como atiram negros
42 Naipes no vale glauco de meu sonho!
43 Erza, trazem mais putas para Elêusis
44 E hoje Amatonte é todo o vasto mundo:
45 Prostitutas sagradas! - Se esta carne
46 Demais sólida pudesse dissolver-se,
47 Derreter-se e em rocio transformar-se!
48 Príncipe louro, oh náusea, proibição
49 Do mais ilustre amor, oh permissão,
50 Oh propaganda santa do mais rude!
51 L'amor che move il sole e l'altre stelle
52 Aqui parou, em ponto morto. Nem
53 Cometas hoje aciona, ou gestos de
54 Ternura move rumo aos eixos trêmulos
55 De seres enlaçados; nem desperta
56 Encantados centauros de seu sono.
57 Amor represo em ritos e remorsos,
58 Eros defunto e desalado. Eros!
[...]














[...]
4 Ai, estações -
5 Esta estação não é das chuvas, quando
6 Os frutos se preparam, nem das secas,
7 Quando os pomos preclaros se oferecem.
8 (Nem podemos chamá-la primavera,
9 Verão, outono, inverno, coisas que
10 Profundamente, Herói, desconhecemos...)
11 Esta é outra estação, é quando os frutos
12 Apodrecem e com eles quem os come.
13 Eis a Quinta estação, quando um mês tomba,
14 O décimo-terceiro, o Mais-Que-Agosto,
15 Como este dia é mais que Sexta-feira
16 E a Hora mais que Sexta e roxa.
[...]





























O mundo que venci deu-me um amor,
Um troféu perigoso, este cavalo
Carregado de infantes couraçados.
O mundo que venci deu-me um amor
Alado galopando em céus irados,
Por cima de qualquer muro de credo,
Por cima de qualquer fosso de sexo.
O mundo que venci deu-me um amor
Amor feito de insulto e pranto e riso,
Amor que força as portas dos infernos,
Amor que galga o cume ao paraíso.
Amor que dorme e treme. Que desperta
E torna contra mim, e me devora
E me rumina em cantos de vitória...





















Estava espremida num canto do compartimento, a pesada mala
acima da cabeça, Karenin encolhida a seus pés. Pensava no
cozinheiro do restaurante onde estivera empregada quando
morava com a mãe. Ele não perdia uma oportunidade de dar-lhe
uma palmada nas nádegas e mais de uma vez, diante de todo
mundo, convidara-a para dormir com ele. Era estranho que
agora pensasse nele. Ele encarnava para ela tudo o que lhe
repugnava. Mas, no momento, só tinha um idéia, encontrá-lo
novamente e dizer:
-Você dizia que queria dormir comigo. Bem, aqui estou!

Tinha vontade de fazer alguma coisa que a impedisse de voltar
para Tomas. Tinha vontade de destruir brutalmente todo o
passado de seus sete últimos anos.
Era a vertigem. Um atordoamento, um insuportável desejo de cair.
Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela
nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa própria
fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar.
Embriagamo-nos com nossa própria fraqueza, queremos ser
mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de
todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão.
Tentava persuadir-se de que não ficaria em Praga e de que não
trabalharia como fotógrafa. Voltaria para a pequena cidade de
onde a voz de Tomas a arrancara.
Assim, no fim de cinco dias Tomas subitamente apareceu no
apartamento.
Estavam os dois um em frente ao outro, no meio de uma planície
gelada e tremiam de frio.
Perguntou:
-Tudo bem?
-Sim.
-Você esteve no jornal?
-Telefonei.
-E aí?
-Nada. Esperava.
-O quê?
Ela não respondeu.
Não podia dizer-lhe que era por ele que esperava.





























Aquele que deseja continuamente "elevar-se" deve esperar um.
dia pela vertigem. O que é a vertigem? O medo de cair? Mas por
que sentimos vertigem num mirante cercado por uma
balaustrada sólida? A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a
voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o
desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados.

As infidelidades de Tomas lhe revelavam de
repente sua impotência, e desse sentimento de impotência nascia
a vertigem, um imenso de sejo de cair.

No mesmo dia caiu na rua; seu passo tornou-se hesitante; caía quase todos os dias,
esbarrava nas coisas ou, na melhor das hipóteses, deixava cair
todos os objetos que tinha nas mãos.
Sentia um desejo irresistível de cair. Vivia numa vertigem
contínua.
Quem cai diz: -Levante-me!
Pacientemente, Tomas a levantava.

Sentia-se atraida por essa fraqueza como por uma vertigem.
Sentia-se atraida porque ela mesma se sentia fraca. Estava de
novo com ciúmes e suas mãos começaram a tremer. Tomas
percebeu e fez um gesto familiar: tomou-lhe as mãos para
acalmá-la com uma leve pressão dos dedos. Ela fugiu.
-O que é que você está sentindo?
-Nada.
-O que é que posso fazer por você?
-Quero que você fique velho. Dez anos mais velho. Vinte anos
mais velho!
Com isso queria dizer: quero que você fique fraco. Que você
seja tão fraco quanto eu.




















Nos sonhos, não havia nada a decifrar. A acusação que faziam a
Tomas era tão evidente que ele era forçado a calar-se e a
acariciar, cabisbaixo, a mão de Tereza.
Esses sonhos eram eloqüentes, mas, além disso, eram belos.
Esse é um aspecto que escapou a Freud na sua teoria dos sonhos.
O sonho não é apenas uma comunicação (às vezes uma
comunicação codificada), é também uma atividade estética, um
jogo da imaginação, e esse jogo tem em si mesmo um valor. O
sonho é a prova de que imaginar, sonhar com aquilo que nunca
aconteceu. é uma das mais profundas necessidades do homem.
Eis aí a razão do pérfido perigo que se esconde no sonho. Se não
fosse belo, o sonho poderia ser rapidamente esquecido. Mas ela
voltava incessantemente a seus sonhos; repetia-os em
pensamento, transformando-os em histórias fantásticas. Tomas
vivia sob o encanto hipnótico da beleza angustiante dos sonhos
de Tereza.

- Tereza, querida Tereza, parece que você se afasta de mim.
Aonde quer ir? Todos os dias você sonha com a morte, como se
realmente quisesse partir...
disse-lhe um dia, à mesa de um
bar.
A luz do dia, a razão e a vontade retomavam o comando.
Olhava para ele com amor, mas temia a noite que ia chegar,
tinha medo de seus sonhos. Sua vida partira-se em duas.

A noite e o dia disputavam o poder sobre ela.

Mentira!

Posted on 09:52 In:



















mentira s. f.
primeira pessoa sing. pret. m.-q.-perf. ind. de mentir

terceira pessoa sing. pret. m.-q.-perf. ind. de mentir

1. Ato de mentir.
2. Engano propositado. = falsidade
4. Aquilo que engana ou ilude. = fantasia, ilusão
mentir


v. intr.
1. Dizer o que não é verdade.
3. Enganar.
4. Falhar.
5. Faltar.
6. Não cumprir o prometido ou o que era de esperar.




A melhor punição do mentiroso é não se crer nele nunca mais.

Perdoar

Posted on 11:28 In:




























Por que é tão difícil perdoar?
Porque sempre que tentamos fazer algo verdadeiro através do perdão, nos vimos pisados, de novo e de novo, até não acreditarmos mais numa forma de sentimento que nos subjuga sempre pra baixo.
Abaixo do outro que na verdade é quem deveria se envergonhar e lutar pela reconquista da confiança que foi fragilizada.
A ordem de tudo anda invertida ultimamente, estamos numa sociedade onde é heróico usar as pessoas, tirar vantagem ou fazer qualquer coisa para sair "por cima", não importa a forma.
Vemos todos os dias que os fins justificam os meios e temos que ser cada vez mais egoístas para se encaixar dentro dos "padões".
Porém, numa sociedade doente, se encaixar nos padrões e ser "normal" não significa ser realmente verdadeiro, não com os outros, além disso, consigo mesmo.
Ver além não é seguir conceitos pré-formados, por mais errado que possa parecer.
Voltando ao perdão, ao contrário do que dizem, não o acho um sentimento heróico, mas é cultural não é mesmo?
Pior, é bíblico.
Não vai ser hoje, nem amanhã que um pedaço de papel cheio de belas histórias míticas como também de erros e preconceitos hediondos vai me fazer mudar de ideia.
As experiências valem mais do que deduções e especulações, como já dizia Locke.
Não é que o perdão não exista, não ouso dizer isso.
Tal sentimento tornou-se prostituído, caracterizado sempre por quem é bonzinho, "puro de coração" e outros adjetivos que os contos adoram empregar.
Na verdade o perdão existe, só não é tão belo e ameno.
Deve ser usado? Sim, mas de forma inteligente.
Pena que inteligência emocional foi associada a pessoas frias e calculistas.
Bem, é só pensar um pouco... Elas não saem tão pisadas, no final.

Viajantes na Chuva

Posted on 20:00 In:




























Uma vez conheci um viajante num café.

Ao deixar este lugar,
Ele escreveu que podia ter ido embora, mas que nunca me deixaria.
Mas, um dia, o viajante começou a me deixar... Aos poucos.

Eu tentei dizer...
Tentei lhe explicar que o que está escrito tem um significado muito maior do que o que é falado - e que era por isso que eu escrevia -.

O viajante se enfureceu porque eu li suas palavras secretas.

Só não sabia que foram as palavras mais belas que eu já havia lido em toda a minha vida.
E ao perceber que eram pra mim, e tomá-las - sem ter o direito - como um presente desviado pelo acaso, me senti por um momento a mais amada das criaturas daquela estrada.





























Copo de conhaque barato na mão.
A viagem não é demorada mais, foi suprida pela ânsia de ir, de fugir, se elevar daquilo tudo que ficou pra trás na estrada.
Deixei você na estrada hoje também.
Pudera eu, deixar junto de ti toda a ira que despejou em cima de mim e cada ferida encravada abafada pela desculpa de lembranças doídas de quem já se foi.
A morte dói, e é usada como refugio de problemas dos vivos.
Tecidos se rompem.
Sonhos se rompem.
Ao contrário do que diz, não há nada de belo em tudo isso. Também não há nada de horrível.
A verdade é que não há absolutamente nada.
E como vi hoje, o Nada pode ser pior do que o Tudo. Pois o Tudo preenche, dissumula e aquieta com a mentira. Já o Nada, escancara a falta. É direto, assim como a sua vingança.
Durma bem, minhas lembranças ainda são belas.
As lembranças sempre são, pois é tudo que podem guardar.
Porém, hoje a noite não sinto vontade de suprir sua falta.
Tudo que eu quero essa noite é o velho quarto, a velha casa e nossa velha vida sem perspectivas individuais. Por um momento, tudo foi só nós dois.
Durma bem,
Durma bem.


Teoria dos Muitos Mundos

Posted on 12:19 In:

















(...)

Pode parecer estranho, mas a interpretação dos Muitos Mundos de Everett tem implicações além do nível quântico. Se uma ação tem mais de um resultado possível, então - se a teoria de Everett estiver certa - o universo se quebra quando aquela ação é tomada, o que continua sendo verdade, mesmo quando a pessoa decide não tomar uma atitude.

Isso significa que se você já esteve em uma situação onde a morte era um dos possíveis desfechos, então, em um universo paralelo ao nosso, você está morto. Esse é apenas um dos motivos que faz algumas pessoas acharem a interpretação dos Muitos Mundos perturbadora.

Outro conceito perturbador da interpretação dos Muitos Mundos é que ela mina nosso conceito linear de tempo. Imagine uma linha do tempo mostrando a história da Guerra do Vietnã. Em vez de uma linha reta mostrando acontecimentos notáveis progredindo adiante, uma linha do tempo baseada na interpretação dos Muitos Mundos mostraria cada possível desfecho de cada ação tomada. Daí, cada possível desfecho das ações tomadas (como resultado do desfecho original) também seria registrado.

Uma pessoa, porém, não pode ter consciência de suas outras personalidades - ou até mesmo de sua morte - que existem nos universos paralelos. Então, como saberemos se a teoria dos Muitos Mundos está certa? A certeza de que a interpretação é teoricamente possível veio no fim dos anos 90, com a experiência mental - uma experiência imaginada, usada para provar ou desmentir teoricamente uma idéia - chamada suicídio quântico.





























O mito do eterno retorno diz‑nos, pela negativa, que esta vida, que há‑de desaparecer de uma vez por todas para nunca mais voltar, é semelhante a uma sombra, é desprovida de peso, que, de hoje em diante e para todo o sempre, se encontra morta e que, por muito atroz, por muito bela, por muito esplêndida que seja, essa beleza, esse horror, esse esplendor não têm qualquer sentido.
(...)
Se a Revolução Francesa se repetisse eternamente, a historiografia francesa orgulhar‑se‑ia com certeza menos do seu Robespierre. Mas, como se refere a algo que nunca mais voltará, esses anos sangrentos reduzem‑se hoje apenas a palavras, teorias, discussões, mais leves do que penas, algo que já não aterroriza ninguém. Há uma enorme diferença entre um Robespierre que apareceu uma única vez na história e um Robespierre que eternamente voltasse para cortar a cabeça aos franceses.

A idéia do eterno retorno designa uma perspectiva em que as coisas não nos aparecem como é costume, porque nos aparecem sem a circunstância atenuante da sua fugacidade. Essa circunstância atenuante impede‑nos, com efeito, de pronunciar um veredicto. Poderá condenar‑se o que é efêmero? As nuvens alaranjadas do poente iluminam tudo com o encanto da nostalgia; mesmo a guilhotina.

Não há muito, eu próprio me defrontei com o fato: parece incrível mas, ao folhear um livro sobre Hitler, comovi‑me com algumas das suas fotografias; faziam‑me lembrar a minha infância passada durante a guerra; diversas pessoas da minha família morreram nos campos de concentração dos nazistas, mas o que eram essas mortes comparadas com uma fotografia de Hitler que me fazia lembrar um tempo perdido da minha vida, um tempo que nunca mais há‑de voltar?

Esta minha reconciliação com Hitler deixa entrever a profunda perversão inerente ao mundo fundado essencialmente sobre a inexistência de retorno, porque nesse mundo tudo se encontra previamente perdoado e tudo é, portanto, cinicamente permitido.

***

A idéia do eterno retorno me faz lembrar da teoria física dos Muitos Mundos, que não tem muito haver com a primeira, mas traz uma analogia muito interessante de repetições, porem repetições diferenciadas, ao contrario da Idéia do Eterno Retorno.

Embora muito sábia a passagem do autor sobre Hitler, penso que a idéia de uma reconciliação não possa ser maior que a mágoa pelo que foi perdido, sendo portanto exageradamente efêmera demais, se encaixando perfeitamente nas teorias de Nietzsche do eterno retorno. O eterno retorno pede reconciliação e ao mesmo tempo uma sensibilidade um tanto fria.
































E que realmente exista fora das novelas imbecis da rede globo, por favor.

Razão e Sensibilidade

Posted on 16:42 In:





























Download do Livro

Download do Filme RMV + Legenda

Download do Filme Torrent + Legenda


Domingo passado, eu estava precisando muito de algo que me fizesse deslocar a atenção das saudades que eu sentia, e como de costume resolvi ver um filme. Assisti a "Razão e Sensibilidade". Confesso que já li dois livros da escritora Jane Austen, no qual o filme foi baseado e gosto muito dos seus romances, isso ajuda bastante quando se junta com o meu fascínio por História (Jane 1775-1817), pois são livros que retratam perfeitamente os costumes da sociedade daquela época.
Enfim, sou suspeita pois sou fã de carteirinha de "Orgulho e Preconceito" seu livro de maior sucesso que também virou filme.
Razão e Sensibilidade apesar de um título bobo e ouso dizer que até romântico ao extremo, conta a história de duas irmãs, Marianne e Elinor Dashwood, uma com as emoções muito contidas e que pensa demais, raciocina demais e age de maneira prática e sempre correta em tudo que faz (razão). E outra que não tem medo de expressar seus sentimentos, desejos e anseios. Sempre age segundo seus instintos sem se importar com a opinião/conceito de terceiros (sensibilidade).
O interessante da história é mostrar que apesar de todos nós sermos mais inclinados para razão ou para sensibilidade (concordo mais em trocar sensibilidade por emoção), precisamos procurar o equilíbrio em tudo que vivemos, pois tudo que é extremo é demais, sobra. Parece clichê, mas penso que na prática se aplica muito bem e é interessante a forma que o filme retrata tudo isso dentro dos costumes tradicionais da Inglaterra naquela época.
Mas nem por isso penso que é errado ser extremo, faz parte da essência da personalidade de cada um de nós.
E você, está mais pra Razão ou pra Sensibilidade?

Sorriso de Mona Lisa

Posted on 15:46 In:



















Hoje eu estou feliz, e quero passar até o fim do meu dia feliz.
Pode ser que amanhã dê tudo errado, que o motivo da minha felicidade de hoje até não se realize, mas eu estou feliz em pensar que tudo pode dar certo.
Estou feliz porque é uma felicidade própria, pessoal, eu conquistei sozinha e só tenho a mim pra gozar plenamente dela, e isso só me faz crescer e sentir que eu posso sim, porque não?
E de quê importam os outros?

O olhar alheio pode ser pior que se torturar pelo que não aconteceu, portanto, só digo que essa noite eu sou a pessoa mais feliz desse mundo e guardo tal segredo pra usufruir sozinha lentamente com um orgulho inimaginável, cada pequeno e próspero sabor.

















"Não se conhece bem um homem que nunca deixou a barba crescer.
Digo isto sem preconceitos, porque não mais pertenço a confraria dos barbados. Mas estou convencido de que se conhece mal um homem que nunca deixou irromper na floresta de seu rosto, o outro, o selvagem, o agente adormecido, o hirsuto...
Há mulheres que, tendo conhecido a sabedoria erótica da barba nos lençois do dia, nunca mais se contentarão com a banalidade barbeada de outros amores...
Indizível prazer é esse de confiar a barba. Inconsciente. Ritualisticamente. Enquanto se lê, enquanto se aguarda o outro dizer uma frase estúrdia, enquanto se toma um vinho ou se afaga o cão junto a lareira, e fechando, bem dizia Walmor Chagas outra noite num jantar quando se discutia a metafísica da barba: a barba é uma máscara como no teatro; é outro em nós, um modo de o personagem se experimentar em cena..."

Escrito

Posted on 22:13 In:



















Helena surge caminhando lentamente
Ajoelha-se na tumba de Ulisses
Era um início fácil
Desprovido de "Quês"

Ulisses está morto
Já se passaram anos
Ou será que é ela
Quem permanece morta para ele?

Todavia,
Quem pressiona a tumba?
Quem mantém as escrituras reais?

Ela
Amavelmente sussurra:
"Permaneça morto, meu amor."

Filmes: London

Posted on 21:35 In: ,




























Download Torrent + Legenda

Hoje assisti a este filme no AXN, já estava na minha lista há um bom tempo, mas confesso que me surpreendi, pois sem querer passando canais eu havia assistido ao seu final dezenas de vezes... sempre dava uma olhada na sinopse e via o nome Syd (como um drogado, o que lembra muito o Sid Vicious) e o nome do filme London (Sid era britânico e tocava nos Sex Pistols)... Enfim, havia uma relação indireta com a banda que eu tanto gosto mas eu nunca tive a oportunidade de assisti-lo e achava o final meio bobo pois não havia assistido ao filme completo.

Pra começo de história o filme não tem nada haver com a história dos Pistols ou do real Sid, mas me surpreendeu por ter um enredo bom, com temas interessantes e mesmo o personagem principal ser alguém muito impaciente e em muitos aspectos ignorante - quer tratar tudo de maneira prática e direta - há debates muito interessantes no filme, principalmente sobre o questionamento da existência de Deus, da sanidade mental e relacionamentos amorosos dando ênfase na visão masculina, e não poderia faltar é óbvio: drogas - mas sem aquelas lições de morais ridículas que já cansamos -.


"Não acredito num cara invisível controlando 6 milhões de pessoas. É como ainda crer no Papai Noel... simplesmente um conto infantil criado por adultos assustados com a ideia da própria morte"

Syd, no filme London

Posted on 14:28 In:




















Você, sem dúvidas, sempre foi capaz de levar todos os abismos para bem longe e transformá-los em simples sorrisos infantis.
Eu, na minha ingenuidade e rancor - que me fechavam de tudo e de todos - não sabia ao certo, no começo, o que fazer com tanto excesso de açúcar. Mas, acabei descobrindo por erros médicos, numa certa tarde, que não sou diabética.
Nessa mesma tarde você estava lá. Tudo que eu conseguia enxergar no meio daquele transe era você, por várias horas de pé ao lado daquela cama de hospital.
Confesso que era tudo que eu menos queria naquela época: ser vista naquele estado frágil e deplorável.
Fraca.
Hoje não encontro palavras para descrever o que senti, apenas: Sim, você estava lá. Ele sempre esteve "lá".
Naquele dia percebi que você era o único capaz de sugar algo frutífero da carne seca; do corpo oco de rancor e mágoas fúteis que eu guardava.
Não, não... Já esqueci... E lembrei que tudo aquilo já não há.
Só me importa agora estar com você, pois eu sei que assim tudo se mantém inesperado e renovado... Você sempre me ensinou a tornar os fantasmas das lembranças em palavras risíveis, e eu sempre aproveitei de tudo um pouco nesse nosso, já longo, aprendizado.
Sim senhor!

Posted on 08:54




























"Como é uma mudança brusca de uma sensação tão diferente para outra totalmente oposta" - ele disse.

Disse e não disse. Pois dizia sem saber que assim, dessa simples maneira, estava descrevendo perfeitamente bem os relacionamentos amorosos humanos.

Manílov

Posted on 08:38 In:




























Só Deus poderia dizer como era o caráter de Manílov. Existe uma espécie de gente da qual se diz: é gente assim-assim, nem isto nem aquilo, nem na cidade Bogdan nem na aldeia Selifan, como diz o provérbio. Talvez tenhamos de incluir Manílov nesta categoria. Seu aspecto exterior era vistoso. Os traços fisionômicos não eram desprovidos de simpatia, mas nessa simpatia havia uma porção excessiva de açucar; nos seus modos e maneiras havia algo que se insinuava, procurando conhecer e agradar. Tinha um sorriso atraente, era louro, de olhos azuis. No primeiro minuto de conversa com ele não se escapava de dizer: "Que homem agradável e encantador!" No minuto seguinte, não se dizia nada, e no terceiro, já se dizia: "Que diabo de coisa!" - e se tratava de afastar-se dele o mais possível; mas quem não se afastasse sentiria um tédio mortal. Não adiantava esperar dele uma palavra mais viva ou pelo menos mais irritada, como se pode ouvir de qualquer pessoa quando se toca num assunto que mexe com ela.

Odeio

Posted on 08:22 In:




























Odeio o ser humano
Odeio ser humana
Odeio fingir ser
Odeio precisar ser
Ultimamente eu venho odiando.
Odeio as pessoas
Odeio o que elas podem se tornar
Odeio o lado que pensam chamar de "humano"
Odeio quem se cala
Odeio ainda mais quem fala sem pensar
Odeio quem é sincero
Odeio mais ainda quem não possui sinceridade na voz
Odeio quem mente para ser
Odeio quem mente pra não ser
Ultimamente percebi que meu gato tem sido uma das criaturas mais decentes com quem convivo. E ele vomita bolas de pêlo.
Não é engraçado. Como saber se somos melhores que tudo isso? Com nossas bombas nucleares e falsos regimes?
Tudo isso também já foi um falso conforto de "segurança".


Hoje Não Escrevo

Posted on 16:20 In:




















Chega um dia de falta de assunto. Ou, mas propriamente, de falta de apetite para os milhares de assuntos.

Escrever é triste. Impede a conjugação de tantos outros verbos. Os dedos sobre o teclado, as letras se reunindo com maior ou menor velocidade, mas com igual indiferença pelo que vão dizendo, enquanto lá fora a vida estoura não só em bombas como também em dádivas de toda a natureza, inclusive a simples claridade da hora, vedada a você, que está de olha na maquininha. O mundo deixa de ser realidade quente para se reduzir a marginália, purê de palavras, reflexos no espelho (infiel) do dicionário.

[...]

Que é isso, rapaz. Entretanto, aí está você, casmurro e indisposto para a tarefa de encher o papel de sinaizinhos pretos. Conclui que não há assunto, quer dizer: que não há para você, porque ao assunto deve corresponder certo número de sinaizinhos, e você não sabe ir além disso, não revolve os intestinos da vida, fica em sua cadeira assuntando, assuntando.

Então hoje não tem crônica.

Foi

Posted on 04:40 In:




























Faz tempo que estou sem palavras.
Nada fora do comum quando se vive alheia à prescrição do que a vida manda.
Minha vida seguia num rumo só lentamente (sem olhar pros lados)... Posso afirmar que isso terminou hoje - quando o vi com as malas nas mãos -.
Ele esvaziava o guarda-roupa e punha tudo na mala.
Enquanto eu estava ali.
Ele limpava o criado; tirava as gavetas, os livros, filmes e o velho xadrez.
Enquanto isso, eu ainda estava ali com o olhar mais fixo do que nunca.
Quando finalmente guardou os cinzeiros e os cigarros, era impossível esconder de mim mesma que estava realmente indo embora. Mas foi possível deixar as lágrimas rolarem secretamente no quarto felizmente tão escuro.
Que além de escuro tornou-se vazio... abafado... morto.
Eu não conseguia lidar com a falta dos livros e dos cigarros, arruinavam a peça e descaracterizavam os atores...
A cortina não podia se fechar.
Eu ainda estava ali... mas dessa vez a cama era imensa e eu fechava os olhos, pedindo pra conseguir dormir e me perguntando o por que tínhamos de seguir caminhos tão distantes.

Vidro

Posted on 17:17 In:





















Eu não pertenço a você.
Não sou de seu direito ou posse.
Não sou sua boneca, seu objeto de vidro inestimável.
Eu estou livre, eu tenho sonhos e por enquanto eu ainda sinto.
Eu nunca me senti presa com você, e isso sempre me fez te amar cada vez mais... mas hoje eu pude perceber que você, no seu vago silêncio, começa a me afogar.
Me mantém no escuro, "sem rumo e entre seres vazios".

Lúcio

Posted on 06:58 In:





















"Algumas coisas só precisam ser realizadas, a breve sensação de realização, do inesperado e até do mistíco impenetrável."
Foi o que Lúcio me disse depois de tomar mais da metade da cartela de um remédio que ele nem fazia idéia do que era. Só sabia que era sua, sua vida, sua impenetrável vida. E ele fazia dela o que bem entender.
O quarto estava todo quebrado, o porta retrato amassado de tantas reviravoltas de sentimentos com os presentes na foto. Quebrado, remendado, quebrado, remendado... já virara rotina.
Mas será que assim como o porta retrato, seus pensamentos frustrantes e falhos de morrer caíriam também na sua fúnebre rotina?
Felizmente, ou talvez não, o remédio não fez efeito algum, além de uma forte dor de estômago e insônia.
Talvez, algo o fez ficar. Talvez ele devesse viver. Mas não consigo lhe responder o porquê, e cada vez que eu vejo seus olhos desesperados me perguntando, me questionando, procurando a solução nos meus... me sinto a pior das criaturas do mundo.
Porque alguém merece tais sentimentos?
Eu disse que não posso colar os cacos de vidro do seu espelho, nem posso lhe livrar dos pensamentos mórbidos... frequentes.
Mas o que me faz pensar que sou tão diferente assim dele? O que o fez pensar que é tão diferente de mim? Será que em cada um de nós existe um Lúcio que um dia chega no fundo do poço e no outro retorna? Mas e o que acontece com pessoas como Lúcio que caem nesse poço e sinplesmente não conseguem retornam?

O Fim não tem Fim

Posted on 23:18 In:




















Hoje de manhã, como todo dia, tomei um banho e comecei a arrumar a casa ouvindo música. De repente me deparo com uma frase sendo repetida várias vezes: "The end has no end.../O fim não tem fim..)".
Nesse momento, comecei a ir a fundo nessa frase e interpretar seu significado dentro das relações humanas e de minha própria vida. No mesmo instante, a primeira coisa que me veio a cabeça foi um rosto antigo e cheio de rancor que tive de rever ontem durante toda a noite...
Não é simples ignorar as pessoas que guardamos inimizade. Não gosto, e nem pretendo me manter fria a ponto de ignorar alguém - mesmo pessoas que já causaram profundo dano algum dia na minha vida.

O fim não tem fim, pois o próprio fim significa o começo de uma atenção negativa voltada pra alguém. Aquela pessoa sempre estará lá, conseguirá finalmente ser importante, ter atenção, mesmo que negativamente.

O fim prolongado também me fez lembrar outras pessoas que não vejo há quase um ano, e não tenho vontade de ver um dia sequer. Mas continuam sendo pessoas que são capazes de entrar na minha vida todos os dias por meio de lembranças ocasionadas novamente pelo fim.
Nunca gostei de tais lembranças, mas eu sei que são necessárias. Como também sei que um dia elas finalmente irão embora pra nunca mais voltarem.
Mas o fim também pode ter seu lado bom.
Foi o fim que me trouxe de volta o brilho nos olhos, levando pra longe todo o peso de um olhar avelã e trazendo de volta consigo um sentimento terno escondido em jabuticabas, que nunca imaginei um dia sequer ser capaz de encontrar.
O fim me trouxe o começo de muitos dias em antigos jardins de outrora.

Calendário

Posted on 21:57 In:



















Está quente aqui acolhida entre seus braços e abraços.
Queria neste dia olhar bem pros seus olhos, porque você não me sentes como eu te sinto, e tudo devido a uma cegueira incontrolável asfixiada por subjeções.
Porque eu sei em mim que o que é teu ainda não me pertence.
Na dor do meu prazer coberto pela percepção de que a partida está próxima, e ela é triste no meu anseio maior.
Já sei que em pouco tempo vou acordar e o corpo que eu conheci tão bem, não vai lá estar no quente dos lençois. Mas só por baixo do meu corpo frio de saudade.
Já sei que as minhas mãos são duras para a pessoa em que me tornei na minha frieza face plantada à falsos sorrisos.
Não sei viver mas sei fingir, abrigo-me à sombra da minha força que ainda não existe e por mais lágrimas que largue no chão - sem chão - deste trapézio que é só meu, eu sei que desta queda - que não é queda e só me fez escorregar - eu só vou me levantar mais alta.
Eu sei que no carinho que te tenho - e sempre tive - me levanto desta cama hoje com a certeza de ser em mim aquilo que sou: tão maior, tão mais forte e tão mais alta.

Esta será só a primeira de muitas noites que virão.

Posted on 01:06
















Não acredito mais no tão debatido "free love".

Pensamentos

Posted on 21:28 In:

Se Shakespeare nunca houvesse existido, perguntou-se, seria hoje o mundo muito diferente do que é? Será que o progresso da civilização depende dos grandes homens? Seria o destino do ser humano médio melhor hoje do que no tempo dos faraós? Contudo, continuou se indagando, será o destino do ser humano médio o critério para julgarmos a civilização?
Possivelmente não. Possivelmente o bem-estar da humanidade exige a existência de uma classe de escravos. O ascensorista do metrô é uma necessidade eterna.
Esse pensamento lhe foi desagradável. Sacudiu a cabeça. Para evitálo, acharia algum mode de se opor à superioridade das artes. Argumentaria que o mundo existe para o ser humano médio, que as artes são mero adorno imposto à vida humana e que não a expressam.
Nem Shakespeare é necessário. Sem saber precisamente por que queria desprezar Shakespeare e chegar à libertação daquele homem que fica eternamente à porta do elevador, arrancou bruscamente uma folha da sebe como um homem que se estica, no seu cavalo, para pegar um ramo de rosas ou encher os bolsos com nozes, trotando à vontade através das planícies e campos de um lugar conhecido desde a infância. Tudo lhe era familiar; essa curva, essa cancela, aquele atalho através dos campos. Passaria horas seguidas numa noite pensando assim, com seu cachimbo, vagando de um lado para o outro nas velhas e familiares planícies e pastos, que identificava pela história de uma campanha aqui, a vida de um homem de Estado mais adiante, por poemas e anedotas, e também por figuras ilustres, por este pensador, aquele soldado; tudo muito rápido e claro; mas por fim a planície, o campo, o pasto, a nogueira cheia de frutos e a sebe florida o levavam além da curva da estrada, onde sempre desmontava do cavalo, amarrava-o a uma árvore e prosseguia a pé, sozinho.
Era seu poder, seu dom, dispersar todas as superficialidades, encolher e diminuir, parecendo mais despojado e se sentindo até fisicamente poupado, sem contudo perder nada da intensidade de sua mente. Permanecendo de pé ali, naquela ponta de terra, voltado para a escuridão da ignorância humana, pensava que nada sabemos e em como o mar corrói o solo onde estamos - era esse seu destino, de todos os gestos e superficialidades, todos os troféus de nozes e rosas, tendo mirrado tanto, que se esquecera de seu próprio nome, manteve, mesmo naquele deserto, uma vigilância que não dispensava nenhuma imagem, nem se dispersava em visão alguma.

- Mas o pai de oito filhos não tem outra alternativa... - murmorou a meia voz. Deteve-se, voltou-se, suspirou e, erguendo os olhos, procurou a figura de sua esposa contando histórias para seu filho pequeno; encheu o cachimbo. Fugiu à visão da ignorância humana, do destino humano e do mar corroendo a terra onde pisamos, e que, fosse ele capaz de encarar fixamente, talvez tivesse levado a algum resultado; e econtrou consolo em insignificâncias tão pequenas, se comparadas com o magnífico tema que tivera diante dos olhos ainda há pouco, que se sentiu inclinado a reprovar esse consolo, desvalorizá-lo, como se o fato de ser apanhado feliz num mundo de misérias, para um homem honrado, constituísse o mais desprezível dos crimes. Era verdade; ele era quase completamente feliz; tinha sua esposa; tinha seus filhos; prometera que dali a seis semanas diria "algumas tolices" aos jovens de Cardiff sobre Locke, Hume, Berkeley e as causas da Revolução Francesa.
Mas isso, e o prazer que lhe proporcionava, as frases que compunha, o ardor da juventude, a beleza de sua mulher - tudo tinha de ser desvalorizado e dissimulado sob a frase "dizer tolices", porque, com efeito, não fizera o que poderia ter feito. Era um disfarce; era o refúgio de um homem que temia se apoderar de seus próprios sentimentos, que não podia dizer: É disso que eu gosto, é isto o que sou; e isso parecia bastante lastimável e desagradável a William Bankes e Lily Briscoe, que se perguntavam por que ele precisava dessas dissimulações, por que precisava sempre de elogios, por que um homem tão valente no terreno do pensamento era tão tímido na vida, e pensavam como ele era estranhamente respeitável e ridículo ao mesmo tempo.






























Quem culparia o capitão da esquadra condenada se, tendo-se aventurado ao máximo e esgotado toda a sua força, e tendo adormecido sem pensar muito se acordaria ou não, agora percebesse, por uma comichão nos dedos dos pés, que ainda vivia?
Em geral, não tinha objeção alguma quanto a viver; exigia apenas simpatia e uísque, e alguém para ouvir a história de seu sofrimento naquele mesmo instante.
Quem o culparia? Quem não se rejubilaria secretamente quando o herói tirasse sua armadura e, parando sobre junto à janela, olhasse sua mulher e seu filho - a princípio muito distantes, mas gradualmente se aproximando, até que lábios, livro e cabeça surgissem nitidamente diante de si, embora ainda adoráveis e estranhos devido à intensidade da solidão dele, ao passar dos séculos e ao findar das estrelas -, e, finalmente, colocando o cachimbo no bolso, curvasse sua cabeça diante da mulher? Quem o culparia se ele prestasse homenagem à beleza do mundo?





























Em algum momento de intimidade - quando histórias de grandes paixões, de amores malogrados, de ambições contrariadas se apresentavam a ela - poderia ter falado sobre quem conhecera, ou o que sentira e passara, mas nunca dissera nada. Estava sempre em silêncio.
Nesses instantes sabia - sabia sem ter aprendido. Sua simplicidade penetrava no que as pessoas hábeis falsificavam. A sinceridade de seu espírito a fazia dirigir-se às pessoas tão diretamente como um fio de prumo, e pousar sobre seu objetivo com a exatidão de um pássaro, o que dava a ela normalmente essa inclinação para a verdade que deleitava, tranquilizava, sustentava - falsamente talvez.

***

"Mas ela sabe menos da própria beleza que uma criança", dissera o sr. Bankes ao pousar o receptor, atravessando a sala para ver o progresso dos trabalhadores no hotel em construção atrás de sua casa.
Assim, se pensava apenas em sua beleza, precisava lembrar-se dessa vitalidade, dessa agitação (os operários carregavam tijolos por uma prancha enquanto os olhava), e integrá-las na sua imagem; ou caso se pensasse nela apenas como uma mulher, era preciso dotá-la de uma certa excentricidade idiossincrásica; ou supor nela um desejo latente de se libertar da realeza de sua forma, como se a sua beleza e tudo o que os homens diziam sobre ela a aborrecessem, e ela quisesse ser tão-somente como os outros: insignificante.
Ele não sabia.

Rapsódia

Posted on 19:59 In:





















Os olhos dela, translúcidos de emoção, arrogantes de trágica intensidade, encontraram os dele por um segundo e pestanejaram à beira do reconhecimento; mas então, esboçando um gesto até o rosto, como para afastar, expulsar, numa agustiante e persistente vergonha, o olhar deles, que era absolutamente normal, Ramsay pareceu implorar-lhes que refreassem por um momento o que ele sabia ser inevitável, como se impusesse a eles seu próprio ressentimento infantil por ter sido interrompido.
Contudo, mesmo no momento da revelação, não seria completamente destroçado, estava decidido a reter algo dessa deliciosa emoção - essa impura rapsódia de que se envergonhava, mas com a qual se deleitava.

Palavras não são tudo

Posted on 08:30 In:





















Por mais que seja fácil odiar alguém ou suas ações, perdoar pode ser bem mais simples do que parece.
A questão é apenas o quanto você se importa e ama quem errou.
Hoje de manhã, após relembrar uma longa conversa noturna, percebi que a questão não é apenas não sentir nada pelo que o outro fez, ou simplesmente não se importar...
Tem pessoas que ocupam um lugar tão vasto em nossas vidas, que já estão perdoadas antes mesmo de pisarem na bola.
Mas só porque alguém diz que sente muito não significa que o erro nunca existiu.
Não é simplesmente só perdoar. E o que fica? Ou indo um pouco além, o que não fica?
Perdemos confiança, respeito e lealdade. Sobram apenas escombros: insegurança, anseio e uma angustia corrosiva no peito: será que vai acontecer de novo?
Aprendi da pior forma, que as pessoas na primeira chance que tiverem, agirão de forma desprezível. Principalmente se houver um rápido perdão.
Parece frio, mas acreditem, não é. Afinal, ninguém comete o mesmo erro duas vezes, se da primeira vez estiver sido claramente exposto e análisado - para quem o cometeu - exatamente o que houve de errado ali, e o que ele irá perder se isso acontecer de novo.
Isso me lembra muito Maquiavel ("Um líder deve ser amado e temido, mas se a primeira proposta não funcionar, melhor ser temido.") que de muitas formas foi julgado calculista, mas não podemos discordar que ele teve razão e apenas expôs o caminho mais fácil de lidar com a população, principalmente no surgimento de problemas.
Talvez isso não sirva só para os seguidores de Maquiavel, pois o amor pode ser estúpido o bastante a ponto de perder sentimentos recíprocos valiosos em troca de absolutamente nada.
Mas quem disse que se manter insensível é também uma tarefa simples?
O amor não basta*, nem nunca vai bastar.
Não pra
mim.




*É a segunda vez que essa frase é repetida aqui.
























Ele não disse nada. Tomara ópio.
As crianças diziam que tingia a barba de louro com ópio. Talvez.
O que lhe parecia óbvio é que o pobre homem era infeliz, e vinha para ali todos os anos como uma fuga; e mesmo assim, a cada ano ela sentia a mesma coisa: ele não confiava nela.
Dizia-lhe: "Vou à cidade. Quer selos, papel, fumo?", e o sentia estremecer. Não confiava nela.

Ele era descuidado; derramava coisas no casaco; tinha o cansaço de um velho sem nada para fazer na vida; e ela o pusera porta afora. Ela dissera, com seus modos odiosos: "Agora a sra. Ramsay e eu queremos conversar", e a sra. Ramsay pôde ver assim, com seus próprios olhos, as inumeras infelicidades de sua vida.

Teria ele dinheiro suficiente para comprar fumo? Teria de pedi-lo? Meia coroa? Dezoito pence?
Ah ela não podia suportar o pensamento das pequenas indignidades que ela lhe impusera. E sempre, agora (por quê, de alguma forma, àquela mulher), ele fugia dela. Nunca lhe contava nada. Mais o que mais podia fazer?
Ela lhe reservava um quarto ensolarado.
Na verdade, ela se desviava do seu caminho apenas para ser gentil.
Quer selos? Quer fumo? Aqui está um livro de que deverá gostar, etc.

Ofendia-a que ele lhe fugisse. Magoava-a. E ainda, fugia-lhe de forma errada, incorreta. E por isso, quando o sr. Carmichael fugia dela, como fez naquele momento, refugiando-se em algum canto onde comporia acrósticos sem fim, não se sentia repudiada apenas em seu instinto, mas consciente da mesquinharia que havia em alguma parte dentro dela e da imperfeição dos relacionamentos humanos, e de como as pessoas era desprezíveis e egoístas, por mais que se esforçassem.

Posted on 18:34 In:





























Era tão doloroso lembrar-se de que as relações humanas são falhas e não resistiam ao exame a que ela as submetia em meio ao amor e sua ânsia de veracidade; no instante em que lhe era penoso sentir-se convencida da sua indignidade de cumprir suas funções devido a essas mentiras, esses exageros...

Posted on 22:16





























Nem tudo são flores,
mas quando estou com você,
em qualquer jardim pode estar ensolarado.





























Você é mais, muito mais.
Não há como descrever melhor o que você representa na minha vida além de "mais", sempre mais do que eu poderia esperar.
Mais do que eu poderia idealizar, criar ou até mesmo moldar.
É maior e mais profundo do que todo desejo e anseio que ousaram se aproximar.
Romances baratos e diabéticos não podem ser mais mal contados do que o que tivemos...
Nem "1001 filmes" que ilustraram tantas noites mal dormidas com suor e gargalhadas naquela cama.
Você sabe me fazer sorrir, sorrir de verdade.
Poderia ter sido rápido, e teve tudo para ser passageiro... mas se mantém estranhamente pleno.
Tem toda razão, você não é o homem que eu vejo em você.
Isso porque jamais pude idealizar tal homem
Eu apenas vejo o único homem que sei amar.


19/08/09