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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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Despedida do Quarto do Segundo Andar

Posted on 21:21


















Três túmulos, aquele quarto; nossos sofrimentos e temores sepultados em ruínas.

A saudade sempre se pune com a impossibilidade de ressurreição.
Não me viriam pensamentos amargos, quando em minhas horas de insônia evocasse novamente aquele quarto no segundo andar.
Pensaria nas paredes, no vinil que lhe dei e em como, entre elas, fui feliz.
Teria recordações do jardim, das rosas no estio do vizinho, dos pássaros e do sons da guitarra.
Do sumo do guaraná sob a sombra da amoreira emoldurando as paredes, do murmurio dos seus dedos encontrando-se com os meus pela noite.

O luar tem grande influência sob a imaginação, mesmo a imaginação de quem começa a sentir que talvez seja preciso se desfazer de um sonho.
E ali, queda e silenciosa, eu jurara como Capitu não ser a minha própria casa.
Recheada dos seus passos e cachos morenos, ainda tenho a impressão de que todos os anseios do mundo se vão quando me toma pelos braços.

No silêncio dessas noites eu tentara, em vão, despejar a tortura da sua indiferença numa concha morta. Que se engasgava acelerada em meu peito, mas era um ser que respirara, palpitando vida como outrora.
O tremor ainda me visita, me encolhe. Foi esculpido temeroso de sentir mais uma vez todo o vazio da falta de chão.
Um ardor nos olhos impede-me de chorar ou me culpar mais uma noite. Fui fiel no ardor da espera, te fiz Ulisses, mas não o pintei com a mesma bravura. Tua balança impedia-me, constrangia minha face no reflexo.

É preciso prometer que o tempo não quebrará a perfeita simetria do que fora.
É preciso juras, ações que acalentarão meu corpo do temor do seu próximo silêncio.
É preciso, mas o coração saudoso e apaixonado se esquece rápido por demais do sofrimento de outrora.
Mas, se de certo, não desejar rever a dor das minhas mãos geladas e trêmulas, hei de abri-las, e tirar do côncavo minha joia mais preciosa.
Minh'alma dilacerou-se demais desta vez, tornou-se descrente com seus abandonos.

A Estrada, o Amor e a Morte

Posted on 21:37
Não sou convicta, valente ou segura. De fato, gostaria de ser uma exclamação, mas no lugar disso tornei-me um ponto e vírgula: tímido, indeciso, um separador de palavras e expressões.

Essa noite eu pensei de várias formas em como escrever na terceira pessoa. O intuito é bem claro: fugir dessa vida pouca que possuo, recheada de realidade por demais. Ao mesmo tempo para despi-la anonimamente na minha zona de conforto. Vivo de fugas, as vezes me considero uma eterna Sabina*.

Raramente escrevo a palavra "amor" no papel, como se ela me desautorizasse, ou simplesmente não fosse digna de dar o ar de sua graça e beleza nos sentimentos e devaneios que tenho de uns tempos pra cá. Me pergunto se me desvio do amor por questionar constantemente se meu amor próprio não se tornou um ponto de interrogação mal escrito.

Martirizando minha terceira pessoa, pergunto-me se o arrepio que sinto é apenas uma brisa constante, repleta de vírgulas e sonhos. Concedi-me essa noite permissão para escrever sobre o amor - e todos os sentimentos difusos que vejo em você.

Estou anestesiada há dias, não me envergonho de dizer que meus pensamentos são mórbidos e descrentes. No entanto, não sei dizer se esse luto é pela minha morte em você, pela sua morte em mim, pela morte do amor, das fortalezas e castelos palpáveis de sonhos que construímos ou do meu desejo de terminar tudo isso de uma vez não acordando mais.

Como disse, vivo de fugas, mas elas já não me alimentam há dias. A paixão dos suicidas que se vão sem explicação é incerta e confortável, mas constante.

A esperança que me dás é desalmada, agressiva e egoísta.
A esperança que me dás tem sangue covarde.
A esperança me mostra o quanto é mais importante para ti me ferir para conseguir olhar mais uma vez em meus olhos.

Por fim, a única certeza que tenho é que todo esse plano maquiavélico reflete quem você realmente é, quem eu mais tinha medo que você se tornasse, quem um dia segurou nas minhas mãos trêmulas
e prometeu que não se tornaria - mais uma vez.

Seus rabiscos já não marcam meu papel. Suas certezas se foram do meu coração.
Seu amor é incompatível com a verdade. Suas ações são cruéis e descuidadas, vazias da empatia e cuidado que têm o apaixonado. Mas, se de fato pensas que há amor, reflita se ainda és digno da afeição do meu toque.

Contradizendo minha força oscilante, confesso que o medo assombroso de te perder é inimaginável,  dilacera cada pedaço do meu corpo. A sensação de não estar realmente viva, advém de um soco no estômago, um vazio que não tem fundo. Não se vai, temo que nunca se vá, e assim os dias se tornam meses, os meses se tornam anos. O tempo é lento e incerto no menor pensamento de esperar seus olhos na minha porta.

Desejo esperar, mesmo depois de teres me matado inúmeras vezes.
Meu Deus, por que essa esperança amaldiçoada permanece?
Talvez eu ainda seja aquela garotinha sardenta de quatro anos que acredita com todas as forças que, se deixar de se alimentar, o tempo irá retroceder. Assim ela, enfim, terá sua chance de fazer tudo novamente, de focalizar o sangramento nas tentativas de concertar o que o tempo levou embora.


*Sabina: personagem do livro "A Insustentável Leveza do Ser" de Milan Kundera

Hope

Posted on 19:38




















Sobre o nada eu crio profundidades. Sobre a dor eu recorto gravuras não palpáveis.
Os gregos costumavam dizer que a esperança veio da Caixa de Pandora, sendo, portanto, mais perigosa do que qualquer água turva.
Escrever alivia mas reflete a nudez da minha dor. Não posso mais me culpar, de certo, poderia ter feito muitas coisas diferentes, mas o ar retorna mais leve nos meus pulmões quando vejo que tentei.
Talvez, eu esteja esperando algo que já se foi. A areia azul escorre em minhas mãos, não cobre feridas ou desejos, mas afasta minha esperança.
Minha tão dolorosa esperança! Sinto que ela me acalenta cada vez mais próxima a morte.
Olho para os dedos gelados, ossudos... O espelho envergonha e o alimento se foi mais uma vez.
Você está destruindo lentamente cada pedaço do meu coração, a cada momento sinto-me mais próxima do cadáver que tenho medo de tornar.
No entanto, esse medo também vem do fracasso ao ver minhas forças voando para longe, deixando apenas essa visão turva e cruel.
Mais angustiante do que ter esperança de rever seus olhos é acordar todas as manhãs e não encontrar sentido em acordar novamente.
Por favor, mate-me logo.