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About a Girl

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"Nasci em 1992, no interior do estado. A dança-teatro e o cinema formaram meu primeiro imaginário: a palavra vinha como complemento das imagens. Quando descobri os livros, bem cedo, aceitei-os apenas como o lugar das palavras e das idéias, vendo as imagens a que remetiam ou sugeriam, como fantasmas imponderáveis e sem substância, descabidos, impróprios para aquele tipo de veículo. Quando me pedem que fale de mim mesma, sinto o incômodo, pergunto: que imagem devo projetar? Tenho tantas. Acho que a melhor para o caso é a que passo nos próprios posts, de alguém que escreve mas não acredita nos fantasmas das palavras, embora eles sejam inevitáveis. E a melhor forma de conviver sem temor com essas fantasias é jogar com elas, torná-las risíveis, desautorizá-las, de modo a evitar o poder técnico abusivo que tem quem escreve, para iludir o leitor."

Aos destinatários destas palavras

"Pra dilatarmos a alma
Temos que nos desfazer
Pra nos tornarmos imortais
A gente tem que aprender a morrer
Com tudo aquilo que fomos
E tudo aquilo que somos nós"


O Teatro Mágico

Quem lê

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Estava espremida num canto do compartimento, a pesada mala
acima da cabeça, Karenin encolhida a seus pés. Pensava no
cozinheiro do restaurante onde estivera empregada quando
morava com a mãe. Ele não perdia uma oportunidade de dar-lhe
uma palmada nas nádegas e mais de uma vez, diante de todo
mundo, convidara-a para dormir com ele. Era estranho que
agora pensasse nele. Ele encarnava para ela tudo o que lhe
repugnava. Mas, no momento, só tinha um idéia, encontrá-lo
novamente e dizer:
-Você dizia que queria dormir comigo. Bem, aqui estou!

Tinha vontade de fazer alguma coisa que a impedisse de voltar
para Tomas. Tinha vontade de destruir brutalmente todo o
passado de seus sete últimos anos.
Era a vertigem. Um atordoamento, um insuportável desejo de cair.
Eu poderia dizer que a vertigem é a embriaguez causada pela
nossa própria fraqueza. Temos consciência da nossa própria
fraqueza mas não queremos resistir a ela e nos abandonar.
Embriagamo-nos com nossa própria fraqueza, queremos ser
mais fracos ainda, queremos desabar em plena rua, à vista de
todos, queremos estar no chão, ainda mais baixo que o chão.
Tentava persuadir-se de que não ficaria em Praga e de que não
trabalharia como fotógrafa. Voltaria para a pequena cidade de
onde a voz de Tomas a arrancara.
Assim, no fim de cinco dias Tomas subitamente apareceu no
apartamento.
Estavam os dois um em frente ao outro, no meio de uma planície
gelada e tremiam de frio.
Perguntou:
-Tudo bem?
-Sim.
-Você esteve no jornal?
-Telefonei.
-E aí?
-Nada. Esperava.
-O quê?
Ela não respondeu.
Não podia dizer-lhe que era por ele que esperava.





























Aquele que deseja continuamente "elevar-se" deve esperar um.
dia pela vertigem. O que é a vertigem? O medo de cair? Mas por
que sentimos vertigem num mirante cercado por uma
balaustrada sólida? A vertigem não é o medo de cair, é outra coisa. É a
voz do vazio embaixo de nós, que nos atrai e nos envolve, é o
desejo da queda do qual logo nos defendemos aterrorizados.

As infidelidades de Tomas lhe revelavam de
repente sua impotência, e desse sentimento de impotência nascia
a vertigem, um imenso de sejo de cair.

No mesmo dia caiu na rua; seu passo tornou-se hesitante; caía quase todos os dias,
esbarrava nas coisas ou, na melhor das hipóteses, deixava cair
todos os objetos que tinha nas mãos.
Sentia um desejo irresistível de cair. Vivia numa vertigem
contínua.
Quem cai diz: -Levante-me!
Pacientemente, Tomas a levantava.

Sentia-se atraida por essa fraqueza como por uma vertigem.
Sentia-se atraida porque ela mesma se sentia fraca. Estava de
novo com ciúmes e suas mãos começaram a tremer. Tomas
percebeu e fez um gesto familiar: tomou-lhe as mãos para
acalmá-la com uma leve pressão dos dedos. Ela fugiu.
-O que é que você está sentindo?
-Nada.
-O que é que posso fazer por você?
-Quero que você fique velho. Dez anos mais velho. Vinte anos
mais velho!
Com isso queria dizer: quero que você fique fraco. Que você
seja tão fraco quanto eu.




















Nos sonhos, não havia nada a decifrar. A acusação que faziam a
Tomas era tão evidente que ele era forçado a calar-se e a
acariciar, cabisbaixo, a mão de Tereza.
Esses sonhos eram eloqüentes, mas, além disso, eram belos.
Esse é um aspecto que escapou a Freud na sua teoria dos sonhos.
O sonho não é apenas uma comunicação (às vezes uma
comunicação codificada), é também uma atividade estética, um
jogo da imaginação, e esse jogo tem em si mesmo um valor. O
sonho é a prova de que imaginar, sonhar com aquilo que nunca
aconteceu. é uma das mais profundas necessidades do homem.
Eis aí a razão do pérfido perigo que se esconde no sonho. Se não
fosse belo, o sonho poderia ser rapidamente esquecido. Mas ela
voltava incessantemente a seus sonhos; repetia-os em
pensamento, transformando-os em histórias fantásticas. Tomas
vivia sob o encanto hipnótico da beleza angustiante dos sonhos
de Tereza.

- Tereza, querida Tereza, parece que você se afasta de mim.
Aonde quer ir? Todos os dias você sonha com a morte, como se
realmente quisesse partir...
disse-lhe um dia, à mesa de um
bar.
A luz do dia, a razão e a vontade retomavam o comando.
Olhava para ele com amor, mas temia a noite que ia chegar,
tinha medo de seus sonhos. Sua vida partira-se em duas.

A noite e o dia disputavam o poder sobre ela.

Mentira!

Posted on 09:52 In:



















mentira s. f.
primeira pessoa sing. pret. m.-q.-perf. ind. de mentir

terceira pessoa sing. pret. m.-q.-perf. ind. de mentir

1. Ato de mentir.
2. Engano propositado. = falsidade
4. Aquilo que engana ou ilude. = fantasia, ilusão
mentir


v. intr.
1. Dizer o que não é verdade.
3. Enganar.
4. Falhar.
5. Faltar.
6. Não cumprir o prometido ou o que era de esperar.




A melhor punição do mentiroso é não se crer nele nunca mais.