A suavidade da fumaça alta e impregnada no seu corpo
No meio de certa noite quente e chuvosa
No meio de uma rua deserta e serena
Em meio aos respingos no vestido,
Eu aguardo
Fixando os olhos fielmente na esquina da rua,
Onde espero encontrar um rosto molhado

A fumaça morna conforta,
Enlaça-se no vestido e carrega todos os anseios do mundo

E o seu vício me abre o desejo
E o meu vício me leva ao aroma fixado na pele
O seu vício nos cigarros
O meu vício no teu cheiro com cigarros
O vício nas promessas tragáveis
O vício em deixar para trás toda uma vida cancerígena
Em sentir um prazer sombrio com todos os nossos vícios

Olhou-me nos olhos e disse sereno:
“Você escolhe demais pequena, escolhe tanto, que esse mundo todo aos teus pés se transforma rapidamente em fumaça”

Saiu pela janela do quarto
Saiu para comprar cigarros e não voltou
Mas continua sempre ali, como a fumaça.