Três túmulos, aquele quarto; nossos sofrimentos e temores sepultados em ruínas.

A saudade sempre se pune com a impossibilidade de ressurreição.
Não me viriam pensamentos amargos, quando em minhas horas de insônia evocasse novamente aquele quarto no segundo andar.
Pensaria nas paredes, no vinil que lhe dei e em como, entre elas, fui feliz.
Teria recordações do jardim, das rosas no estio do vizinho, dos pássaros e do sons da guitarra.
Do sumo do guaraná sob a sombra da amoreira emoldurando as paredes, do murmurio dos seus dedos encontrando-se com os meus pela noite.

O luar tem grande influência sob a imaginação, mesmo a imaginação de quem começa a sentir que talvez seja preciso se desfazer de um sonho.
E ali, queda e silenciosa, eu jurara como Capitu não ser a minha própria casa.
Recheada dos seus passos e cachos morenos, ainda tenho a impressão de que todos os anseios do mundo se vão quando me toma pelos braços.

No silêncio dessas noites eu tentara, em vão, despejar a tortura da sua indiferença numa concha morta. Que se engasgava acelerada em meu peito, mas era um ser que respirara, palpitando vida como outrora.
O tremor ainda me visita, me encolhe. Foi esculpido temeroso de sentir mais uma vez todo o vazio da falta de chão.
Um ardor nos olhos impede-me de chorar ou me culpar mais uma noite. Fui fiel no ardor da espera, te fiz Ulisses, mas não o pintei com a mesma bravura. Tua balança impedia-me, constrangia minha face no reflexo.

É preciso prometer que o tempo não quebrará a perfeita simetria do que fora.
É preciso juras, ações que acalentarão meu corpo do temor do seu próximo silêncio.
É preciso, mas o coração saudoso e apaixonado se esquece rápido por demais do sofrimento de outrora.
Mas, se de certo, não desejar rever a dor das minhas mãos geladas e trêmulas, hei de abri-las, e tirar do côncavo minha joia mais preciosa.
Minh'alma dilacerou-se demais desta vez, tornou-se descrente com seus abandonos.