Sobre paixão, ego e psicanálise. A tarde dessa terça-feira me trouxe essas palavras.
Assisti ao filme Stage Beauty (A Bela do Palco, 2004). Foi uma indicação de professores do curso de Teatro da UFMG.
Não esperava muito, mas me surpreendi do início ao fim da trama. Não só a fotografia como a beleza dos cenários, do figurino e a atuação dos atores.
Sou suspeita para falar sobre filmes de época, sou completamente fascinada quando se trata de retratar a singularidade do homem, seus hábitos em diferentes meios e tempos.
Buscando diretamente o ponto principal, escrevo sobre este filme porque me lembrou de um livro de Nietzsche que estou lendo e adorando, "Aforismos sobre o Amor e a Morte".
Na trama, percebe-se o jogo de palavras e sentimentos sobre sexualidade. Sobre o estereótipo do homem e da mulher. Misturando de forma complexa o papel do ser e do personagem, do bem principal e do seu acessório.
Uma das falas do texto representa bem essa questão: "Nenhum personagem pertence ao ator. O ator é que pertence ao personagem. Não esqueça jamais."
A psicanálise está presente no filme, na medida em que, ao meu ver, o personagem principal se desconstrói, do início ao fim, partindo de um sexo para outro. De uma maneira ainda mais forte, ouso dizer, do que a narrativa de Woolf em "Orlando". Sua perspectiva própria como ser humano é crua, difusa. Carrega a eterna dúvida quanto ao sexo da alma e, consequentemente, sua própria orientação quanto ao amor.
No despertar das paixões que vão se intercalando sobre o filme - tanto físicas quanto de ofício. Seus interesses se revelam de forma lenta, causando no espectador o fardo de carregar junto com a dúvida, o mistério do próprio personagem. Não digo herói pois esse adjetivo também é desconstruído durante a trama, junto com a confusão da própria sexualidade.
Nietzsche acredita que o homem no fundo desejaria para si outro homem, assim como a mulher também desejaria para si outra mulher. Ele explica em suas divagações sobre o amor que buscamos no amante quem somos ou desejamos ser. É uma luta subconsciente constante, ouso dizer, em tentar mudar o amante para esse novo ser, idealizado.
Essa idealização também está presente na eloquente paixão, demonstrada de diversas formas na trama, pelo lugar sagrado: o palco. Os sentimentos e anseios do ator, se desdobram na necessidade que o mesmo tem de ser visto, criticado, e, dessa forma, também vir a ser um estereótipo ideal, só que dessa vez da sua platéia.
O ator é o amante da platéia, e ela, por sua vez, vê no ator o reflexo desse ser inalcançável apreciado e desejado por todos, mas que no fim, não pertence a ninguém.
O ator é visto como um eterno boêmio, no entanto, vejo-o muitas vezes como um escravo dos sonhos de sua platéia. Um não existe sem o outro, assim como um amante não constrói uma relação afetiva por si só.
Será que somos egoístas a ponto de procurarmos eternamente o que enxergamos através do espelho? Talvez isso explique as crenças românticas e populares como as de "almas gêmeas" ou "a outra metade da laranja".
Em todo caso, creio que isso não seria uma questão de destino, mas existencialista, ao depositarmos nossas expectativas no outro tentamos subjuga-lo a essa laranja.
Mas quem irá dizer que muitas laranjas que rondam por aí, não se sentem felizes?





Vale a pena assistir!
Senha : pinguimlinksp2p.blogspot.com