Quando os pólos se invertem e as cascas das feridas se tornam secas. Caíram como frutos de uma árvore já não tão jovem, já não tão pálida, já não tão eu.
Não desejo justificar nada que fiz, acredito que todo Estado de opressão, uma hora ou outra, se torna guerra. No entanto, toda essa lama é fruto de golpes que pensam defender, mas na verdade são piores do que golpear a si mesmo.
Senti que não pertencia àquele novo lugar por muito tempo, senti-me oprimida com um imperialismo que corava meu rosto todos os dias ao entrar por aquela porta de vidro.
Passei os dias mais difíceis da minha vida para depois passar pelas águas que dividiriam o que eu pensava ser e o que sou. Sou cem anos mais velha do que era ontem e serei duzentos anos amanhã.
Tantos rostos me parecem tão pequenos agora, tudo isso parece ter sido um sonho e o meu despertar foi com água gelada. Mas não me engano, toda dor, toda perda tem uma etapa.
Passei pela negação procurando me tornar, de fato, aquilo que transgredia até mesmo meus próprios valores. O ódio veio quando parti, mas algum gelo derretia, lia e relia o texto pro meu pequeno e as lágrimas rondavam as palavras dele, os sonhos dele. As lágrimas rondavam minhas noites insones, tinha medo e não conseguia entender o porquê da guerra ser necessária.
O problema em si não é a guerra, é o comodismo. Comodismo de todos nós que deixamos a guerra começar, que não conseguimos ouvir por estar afoito em gritar todas as aflições do mundo. Vejo isso acontecer em quase todas as discussões, a preocupação gira em torno de tentar, a todo custo, provar que o seu lado é o certo. Quando na verdade, a melhor forma de solucionar um problema é se desprender e esquecer o narcisismo. Abrir mão de algumas coisas pelo outro, talvez assim ele até retribua com a paz do consenso.
O medo do golpe de Estado deve ir embora.